Por Lucia Mutikani
WASHINGTON (Reuters) – A atividade manufatureira nos EUA atingiu o menor nível em dois anos em dezembro, com queda em novas encomendas e contratações, sugerindo provavelmente que a economia norte-americana não ficou imune à desaceleração na China e na Europa.
A pesquisa do Institute for Supply Management (ISM) divulgada nesta quinta-feira mostrou um cenário pessimista do setor fabril, com quase todos os componentes caindo no mês passado. Preocupações sobre a saúde da economia estão aumentando, apesar do mercado de trabalho permanecer forte.
“A economia vai ter um fraco crescimento em 2019 se acreditarmos no relatório dos gerentes de compras”, disse Chris Rupkey, economista-chefe do MUFG em Nova York. “Os novos pedidos secaram e isso vai prejudicar o investimento e o crescimento das empresas em 2019.”
O Institute for Supply Management (ISM) informou que seu índice de atividade manufatureira dos EUA caiu 5,2 pontos, para 54,1 no mês passado, a menor leitura desde novembro de 2016.
A queda foi a maior desde outubro de 2008, quando a economia estava no meio de uma recessão. Uma leitura acima de 50 no índice ISM indica expansão da atividade manufatureira, que responde por cerca de 12 por cento da economia dos EUA.
O ISM apontou que o consumo continuou a se fortalecer, com a produção e o emprego ainda em expansão, mas “em níveis muito mais baixos em comparação com períodos anteriores”.
O subíndice de novos pedidos do ISM despencou 11 pontos, para 51,1, o piso desde agosto de 2016. O indicador do emprego da pesquisa caiu para 56,4, de 58,4 no mês anterior.
As tarifas impostas pela administração Trump às importações de aço e alumínio e a uma gama de produtos chineses estão prejudicando a indústria. Fabricantes de equipamentos de transporte disseram que “a demanda do cliente continua a diminuir devido a preocupações com a economia e as tarifas”.
Fabricantes de máquinas reclamaram que “os problemas das tarifas entre EUA e China estão causando preocupações de longo prazo sobre custos e estratégias de fornecimento para nossas operações de manufatura”. Fabricantes de computadores e produtos eletrônicos disseram que “o crescimento parece ter parado”.
O presidente Donald Trump defendeu tarifas para proteger a indústria norte-americana do que chama de concorrência injusta. O protecionismo da Casa Branca levou a uma guerra comercial com a China e à imposição de tarifas no comércio com outros parceiros, incluindo União Europeia, Canadá e México.
Além das tarifas, que aumentaram custos de insumos para fabricantes, a atividade fabril também está sendo prejudicada pelo dólar forte, escassez de mão-de-obra qualificada, estímulo fiscal menor e desaceleração em economias como a da China.
DESACELERAÇÃO ECONÔMICA
Em contraposição, a criação de vagas de emprego no setor privado dos Estados Unidos registrou o ritmo mais forte em dois anos em dezembro, sugerindo força sustentada no mercado de trabalho apesar da atual volatilidade no mercado financeiro.
Enquanto outros dados desta quinta-feira mostraram que o número de pedidos de auxílio-desemprego nos EUA aumentou mais do que o esperado na semana passada, a tendência geral seguiu indicando baixa. Os dados de pedidos tendem a ser voláteis nos dias próximos dos feriados de final de ano.
Os dados do mercado de trabalho estão sendo acompanhados de perto para detectar se o aperto das condições financeiras pode estar impactando as decisões de contratação das empresas. Fortes vendas generalizadas no mercado de ações têm alimentado temores sobre a saúde da economia.
O Relatório Nacional de Empregos da ADP mostrou que foram criadas 271 mil vagas de trabalho no mês passado, após criação de 157 mil em novembro. Economistas consultados pela Reuters previam criação de 178 mil postos de trabalho no mês passado, após 179 mil em novembro.
O relatório da ADP saiu antes do relatório de emprego mais abrangente do governo para dezembro, na sexta-feira.
De acordo com pesquisa da Reuters com economistas, a criação de vagas de emprego fora do setor agrícola provavelmente atingiu 177 mil empregos no mês passado, ante 155 mil em novembro. A taxa de desemprego foi estimada perto da mínima de 49 anos de 3,7 por cento, não muito longe da previsão do Federal Reserve de 3,5 por cento até o final de 2019.
Em relatório separado, o Departamento de Trabalho informou que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego subiram em 10 mil, para 231 mil pedidos, em dados ajustados sazonalmente na semana encerrada em 29 de dezembro. Os dados da semana anterior foram revisados para mostrar mais 5 mil solicitações recebidas em relação ao relatado anteriormente.
Economistas consultados pela Reuters projetavam aumento para 220 mil de pedidos na última semana.
((Tradução Redação São Paulo; +55 11 56447509))
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