Por Brian Ellsworth
CARACAS (Reuters) – A oposição venezuelana tentará manter a pressão contra o isolado presidente Nicolás Maduro nesta quinta-feira, depois que o líder do Congresso, Juan Guaidó, se autodeclarou presidente interino do país com o apoio de diversos países da região.
Guaidó ganhou apoio diplomático dos Estados Unidos, do Canadá e de governos de direita na América Latina na quarta-feira, após se declarar presidente interino ante uma multidão de apoiadores entusiasmados que encheram as ruas de Caracas com a esperança de mudança.
A União Europeia disse que a vontade democrática dos venezuelanos “não pode ser ignorada” e pediu que os “direitos civis, a liberdade e a segurança” de Guaidó sejam respeitados, por pouco não o reconhecendo como líder do país.
Segundo os grupos locais de defesa dos direitos Provea e Observatório Venezuelano de Conflito Social, 14 pessoas foram mortas em atos de violência ligados a protestos contra o governo na terça e quarta-feira, com algumas mortes em consequência de saques.
Muitos ativistas da oposição estão preocupados que Guaidó possa ser preso assim como outros líderes políticos, incluindo seu mentor Leopoldo López, que permanece em prisão domiciliar por seu envolvimento em protestos de rua em 2014.
Guaidó, um engenheiro de 35 anos catapultado quase do dia para a noite ao cargo de líder nacional, tem prometido eleições livres e justas, um governo de transição para recuperar a hiperinflacionada economia venezuelana e anistia para os militares que ajudarem a tirar Maduro do poder.
Guaidó enfrenta a difícil tarefa de seguir em frente com o plano de transição sem o controle de cruciais instituições estatais e das Forças Armadas, que o rejeitaram.
Comandantes militares, incluindo o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, têm, até agora, prometido permanecer com o socialista Maduro.
A Rússia, que tem altos investimentos na indústria petrolífera da Venezuela e fornece apoio às suas Forças Armadas, advertiu os Estados Unidos contra uma intervenção militar e disse que irá proteger a soberania do país.
O vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, disse ao jornal russo International Affairs que Moscou irá defender o princípio de não interferência em questões venezuelanas. Ele não mencionou o nome de Maduro, mas deixou claro que a Rússia apoia o governo dele.
A Turquia assumiu posicionamento semelhante, com o presidente Tayyip Erdogan ligando para Maduro para oferecer apoio.
A maior parte dos países da América Latina, incluindo o Brasil, reconheceu o líder da oposição venezuelana Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, deixando Nicolás Maduro ainda mais isolado enquanto enfrenta instabilidade em casa e ameaças dos Estados Unidos.
O governo brasileiro afirmou, em nota do Ministério das Relações Exteriores, que está comprometido em apoiar o “processo de transição” na Venezuela, e o presidente Jair Bolsonaro comentou a situação do país vizinho durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos.
“A história tem nos mostrado que ditaduras não passam o poder para a oposição de forma pacífica, e nós tememos as ações da ditadura Maduro”, disse Bolsonaro em entrevista à TV Record na noite de quarta-feira.
“Obviamente tem países fortes dispostos a outras consequência… como anunciado pelo governo Trump. Obviamente o Brasil acompanha com muita atenção e estamos no limite daquilo que podemos fazer para restabelecer a democracia naquele país”.
Em referência aos protestos antigoverno de quarta-feira, a União Europeia disse que o povo venezuelano havia “clamado em massa pela democracia e pela possibilidade de determinar livremente seu próprio destino. Essas vozes não podem ser ignoradas”.
“O povo venezuelano tem o direito de se manifestar pacificamente, de escolher livremente os seus líderes e de decidir o seu futuro”, disse o bloco em comunicado.
A União Europeia impôs sanções contra a Venezuela e boicotou a cerimônia de posse de Maduro para um segundo mandato este mês, após reeleição que muitos governos estrangeiros classificaram como uma fraude.
O bloco pretende estabelecer um grupo de contato internacional com países da América do Sul em fevereiro para buscar conversas entre Maduro e a oposição, que, segundo diplomatas, precisariam incluir Guaidó.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, usou o Twitter para pedir que “toda a Europa se una em apoio às forças democráticas” na Venezuela.
(Reportagem adicional de Robin Emmott, em Bruxelas; Karin Strohecker, em Londres; e Maria Kiselyova, em Moscou)