BRASÍLIA (Reuters) – A líder do MDB e uma das candidatas à presidência do Senado, Simone Tebet (MS), alertou nesta terça-feira que uma interferência do DEM e do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, na disputa pelo comando da Casa pode atrapalhar a votação da reforma da Previdência, principal prioridade do governo do presidente Jair Bolsonaro.
Segundo a senadora, que confirmou sua intenção de disputar o posto na segunda-feira, essa interferência pode comprometer o apoio da maior bancada da Casa, a do MDB, logo de cara. Por ter o maior número de senadores, o MDB tem, pela tradição, o direito de indicar um nome para a presidência, mas o DEM tem nutrido, relata a senadora, a intenção de ocupar o posto com o senador Davi Alcolumbre (AP).
“Acho que eles estão equivocados e estão prejudicando o governo, porque eles são governo. Eles estão colocando a presidência do Senado como um fim em si mesmo, estão esquecendo a governabilidade”, disse a líder a jornalistas.
“Não pode esquecer que temos uma reforma da Previdência para votar. Não se vota uma reforma da Previdência já de pronto não tendo a maior bancada apoiando”, alertou, calculando que a proposta deva tramitar num prazo entre dois a três meses no Senado.
Questionada sobre se haveria “dedo” de Onyx na eleição para o comando do Senado, Tebet respondeu: “Acredito que sim, não tem como não ter”.
Inicialmente, os recados emitidos pelo DEM indicavam que o nome de Renan Calheiros (MDB-AL), que tem se movimentado nos bastidores desde o ano passado para ser candidato, não contaria com a simpatia do governo Bolsonaro. Depois, relata a senadora, o DEM sinalizou que iria concorrer ao comando do Senado mesmo que o MDB optasse por outro candidato dentro de sua bancada, uma das razões que a levaram a antecipar o anúncio de sua intenção de entrar na disputa.
“Acho que aí tem ruído da Casa Civil, uma interferência no Senado e isso foi uma das razões que eu entendi que tinha que colocar a minha candidatura para ver se o governo tinha –não preferência (por uma candidatura do DEM)–, mas estaria preterindo o partido (MDB)”, afirmou.
Procurada, a assessoria de imprensa da Casa Civil não respondeu imediatamente a pedidos de comentários sobre as declarações de Tebet.
A senadora aproveitou para lembrar que ainda não conversou com Renan, principal concorrente dentro da bancada emedebista, mas já conseguiu se comunicar com o presidente do partido, senador Romero Jucá (MDB-RR), e boa parte de integrantes da bancada –8 senadores dentre os 12 já foram procurados.
Mais cedo o MDB afirmou em nota sobre o anúncio de Tebet que “em nenhum momento, esta candidatura divide” a sigla. Os senadores do partido devem se reunir entre os dias 29 e 31 deste mês para definir a candidatura à presidência do Senado.
A líder, que inicialmente não considerava essa hipótese, não descartou que possa apresentar uma candidatura avulsa à presidência do Senado.
A parlamentar, que vinha desenvolvendo uma movimentação mais discreta, num primeiro momento contava com mais apoio fora de sua bancada. Mas nos últimos dias relata ter recebido pedidos de emedebistas, preocupados com a possibilidade de uma derrota de Renan, e assumiu publicamente suas pretensões.
A decisão de entrar na disputa interna para o comando do Senado, afirma Tebet, ocorreu na “crença” de que tem a maioria na bancada. Ela nega que irá pedir ou tentar convencer Renan a retirar o seu nome.
“A disputa está aí, existe mais de um nome”, afirmou. “O partido não vai sair dividido desse processo, não tem sentido”, completou.
Ciente da resistência ao seu nome entre aliados do governo, Renan tem ensaiado uma aproximação com a nova gestão, e prometido apoio à reforma da Previdência.
Tebet, por sua vez, se disse favorável a uma reforma do sistema previdenciário, independentemente de quem seja o próximo presidente do Senado, ou da posição que o MDB adote em relação ao governo após a disputa.
“Nós precisamos tirar a reforma da pauta, da agenda. Se ela vai ser tudo isso ou não, que o mercado, que a sociedade está pensando, não interessa. Nós precisamos tirar isso, senão o país não vai andar, independente de quem fosse governo.”
A senadora calcula que a reforma da Previdência poderia ser votada em um prazo entre dois e três meses no Senado. Nega, no entanto, que tenha conversado com Bolsonaro ou algum de seus filhos. “Não sou candidata do governo”, disse a senadora.
A senadora esquivou-se de comentar se, caso se eleja presidente do Senado, determinaria a abertura de umas CPI na Casa para investigar as movimentações financeiras do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, na linha do que tem sido defendido por parte da oposição.
Tebet disse que é contra a possibilidade de Alcolumbre presidir a sessão do Senado para a escolha do novo presidente da Casa, caso ele também seja candidato ao cargo. Ela comparou essa situação à de um magistrado que julga um caso pessoal.
“Isso vicia o processo”, criticou.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello e Ricardo Brito)