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Desastre afeta pouco produção da Vale, mas pode ter impactos extras, dizem analistas

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) – O rompimento de uma barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho (MG), que deixou um saldo de dezenas de mortos e centenas de desaparecidos até o momento, tem pouco reflexo imediato sobre a produção da companhia, mas pode disparar medidas do governo com potencial impacto sobre a empresa e o setor de mineração, alertaram analistas de mercado.

O rompimento da barragem em Brumadinho deixou 60 mortos e 292 desaparecidos após uma enorme avalanche de lama de rejeitos que atingiu comunidades e área administrativa da própria Vale, segundo a mais recente atualização de números de vítimas da tragédia, divulgada na manhã desta segunda-feira.

O desastre aconteceu pouco mais de três anos depois que uma barragem da Samarco rompeu em Mariana (MG), levando a 19 mortes e poluindo o importante rio Doce, o que pode justificar medidas do governo como inspeções adicionais de segurança em minas, com possível impacto em operações, e até mesmo uma visão mais severa de autoridades sobre o incidente anterior, apontaram.

A Vale possui 50 por cento da Samarco, em sociedade com a mineradora anglo-australiana BHP.

“A Vale deve ter flexibilidade, dada sua capacidade ociosa, de potencialmente compensar quaisquer perdas de curto prazo nos embarques que poderiam se desdobrar a partir deste local com outras operações, e ainda entregar (uma produção) dentro de sua projeção anual, em nossa visão”, escreveram analistas do Credit Suisse em nota a clientes no domingo.

A Vale, maior produtora global de minério de ferro, havia projetado produzir 400 milhões de toneladas da commodity em 2019, enquanto a capacidade de produção é próxima de 450 milhões de toneladas, notou o Credit.

“É importante notar que essa ‘capacidade não utilizada’ não depende de licenças ou aprovações para retomar a produção. Portanto, a menos que haja novas instruções do governo (como, por exemplo, uma ordem para suspender outras operações que dependem de barragens de rejeitos), acreditamos que não deve ser sentido impacto na produção”, acrescentaram.

A equipe de analistas de mineração do BTG Pactual apontou que a tragédia, que já registra mais vítimas fatais do que o caso de Mariana, deverá “tornar muito mais dura” a regulação do setor de mineração no Brasil, o que poderá inclusive atrasar as perspectivas da Vale de reiniciar operações da Samarco em 2020.

“Embora seja muito difícil prever todas implicações aqui, essa tragédia claramente irá aumentar a atenção dos reguladores no país, o que poderá complicar ainda mais a retomada das operações da Samarco”, escreveram eles, apontando que o prazo de 2020 “talvez não seja mais o cenário-base”.

De acordo os profissionais do BTG, a mina do Feijão, no complexo Paraopeba, produziu cerca de 7,8 milhões de toneladas em 2017 e provavelmente um nível similar em 2018, “o que significa aproximadamente 2 por cento da produção total de minério de ferro da Vale”, estimada em perto de 390 milhões de toneladas no ano passado.

A maior parte da produção da Vale está no Pará, onde a empresa conta com a mina de Carajás. No Estado também está o empreendimento S11D, que produz minério de alta qualidade, após investimentos de bilhões de dólares nos últimos anos.

FUTURO

Analistas ressaltaram, no entanto, que a relação entre oferta e demanda por minério de ferro pode ficar mais apertada no futuro, principalmente no caso de novas ações do governo sobre a Vale e o setor de mineração, uma vez que a empresa detém cerca de 30 por cento do mercado de exportação da commodity.

Os contratos futuros do minério de ferro subiram para máxima em 16 meses nesta segunda-feira após o fechamento da mina do Feijão.

“Embora o acidente tenha impactado apenas uma pequena operação da Vale, possíveis procedimentos de segurança impactando outras minas na região e implicações regulatórias poderiam apertar significativamente o mercado”, explicaram.

Analistas do UBS destacaram em relatório que os investidores ainda têm muitas dúvidas sobre as implicações do desastre, principalmente com relação a impactos sobre a produção de minério de ferro no curto prazo e custo de indenizações.

Uma das questões levantadas pelos investidores é o risco de medidas do governo que impactem outras operações da Vale com barragens de rejeitos, como o sistema Sul.

As ações da Vale operavam em baixa de mais de 20 por cento nesta segunda-feira, por volta das 12h30.

Já a XP Investimentos apontou concordar com a visão de que o licenciamento de barragens e novas minas “deve ficar ainda mais desafiador”, mas ressaltou em nota que a Vale tem adotado novas tecnologias que “estão sendo utilizadas e aprimoradas, o que deve mitigar o risco ao longo do tempo”.

Eles mantiveram recomendação de compra das ações da mineradora com horizonte de médio-longo prazo, mas ressaltaram que “incertezas em relação ao impacto no curto prazo permanecem”, o que sugere “cautela” em relação à companhia.

(Por Luciano Costa; reportagem adicional de Paula Arend Laier e Tatiana Bautzer)

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