Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) – A inadimplência no Brasil caiu a 4,2 por cento em agosto, menor patamar da série iniciada pelo Banco Central em março de 2011, refletindo a desalavancagem de empresas e famílias apesar de a economia não estar avançando em 2018 com o fôlego inicialmente esperado pelo governo.
Divulgado pelo BC nesta quarta-feira, o dado é referente ao segmento de recursos livres, em que as taxas de juros são livremente definidas pelos bancos. Em julho, o percentual de não pagamento havia sido de 4,3 por cento e, em agosto do ano passado, de 5,6 por cento.
“Essa redução continua uma trajetória que a gente vem observando desde 2017. Essa recuperação se deve a, por um lado, retomada da atividade, ainda que gradual, e por outro lado ao desempenho do próprio setor bancário no gerenciamento das suas operações de crédito”, afirmou o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha.
O movimento se deu em meio ao leve barateamento das condições de crédito. Em agosto, os juros médios foram a 38,0 por cento ao ano no mesmo segmento, sobre 38,1 por cento em julho.
Mesmo assim, o custo médio dos financiamentos continua bastante distante da Selic, que segue em seu menor nível histórico, de 6,5 por cento ao ano, nível que foi mantido pelo Banco Central em sua última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana passada.
Em agosto, o spread bancário no segmento de recursos livres caiu a 28,9 pontos percentuais, recuo de 0,5 ponto sobre o mês anterior.
Em coletiva de imprensa, Rocha reconheceu que “as taxas (de juros) em geral são mais altas do que nós desejaríamos”, mas destacou que o BC segue engajado em sua agenda institucional de estimular transparência e competição no mercado de crédito, para além de algumas medidas já implementadas, como por exemplo para redução dos juros no cartão de crédito.
Ele também reforçou que cabe ao consumidor priorizar instituições e modalidades que lhe são mais favoráveis, buscando sempre condições mais baratas.
“Há o que se esperar em redução dessas taxas, mas como em qualquer mercado da economia, o preço do produto que você está adquirindo tem que ser capaz de guiar as decisões de consumo”, pontuou.
ESTOQUE
O estoque geral de crédito no país, que também inclui os recursos direcionados, teve alta de 1,0 por cento em agosto sobre julho, a 3,155 trilhões de reais, alcançando 46,7 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).
Segundo o BC, a desvalorização cambial respondeu por 0,3 ponto percentual deste avanço, já que a forte alta do dólar sobre o real no mês, que foi alavancada por incertezas políticas ligadas às eleições presidenciais, elevou o saldo total em algumas modalidades de crédito, como por exemplo os repasses externos e o financiamento às exportações.
A jornalistas, Rocha destacou que o movimento respondeu por uma elevação de 10 bilhões de reais do estoque de crédito no mês, o que representa, na prática, uma atualização de quanto os devedores têm que pagar a mais em seus financiamentos unicamente pela exposição que têm ao dólar.
Questionado se a cifra não representava um risco, o chefe do Departamento de Estatísticas do BC avaliou que “as modalidades que são de alguma forma indexadas à variação cambial são muito poucas e esses montantes são pequenos em relação ao total de crédito”.
No acumulado dos oito primeiros meses do ano, a expansão do estoque de crédito no país foi de 2,1 por cento, alcançando 3,4 por cento em 12 meses.
No fim de junho, o BC piorou sua estimativa para o mercado de crédito no país a um crescimento de 3 por cento em 2018, ante expectativa anterior de 3,5 por cento. A próxima projeção da autoridade monetária sobre o tema sairá no Relatório Trimestral de Inflação, que será publicado nesta quinta-feira.