Por Philip Pullella
PALERMO (Reuters) – O papa Francisco fez um apelo neste sábado à máfia siciliana, pedindo que os membros abandonem uma vida de crime e violência, dizendo que a região precisa de “homens e mulheres de amor, e não homens e mulheres de ‘honra'”, usando um termo que os mafiosos usam para si mesmos.
Francisco disse, em visita à capital da Sicília, que os membros do crime organizado –muitos dos quais vão à Igreja e são abertamente devotos da religião católica– “não podem acreditar em Deus e ser mafiosos” ao mesmo tempo. Em seu apelo, ele se referiu a eles como “queridos irmãos e irmãs”.
O papa visitou Palermo para homenagear o padre Giuseppe “Pino” Puglisi, um sacerdote morto por mafiosos em 1993 por ter desafiado a organização no controle de uma das regiões mais violentas da cidade.
Puglisi foi morto em seu aniversário de 56 anos durante uma sangrenta ofensiva da máfia contra o Estado e contra qualquer um que ameaçasse a existência do grupo. Os magistrados Giovanni Falcone e Paolo Borsellino foram mortos por bombas em Palermo em 1992.
“Uma pessoa que é mafiosa não vive como um cristão porque em sua vida ele blasfema contra o nome de Deus”, disse Francisco no sermão de uma missa para cerca de 80 mil pessoas na área portuária da capital siciliana.
A Igreja Católica no sul da Itália tem uma história de altos e baixos com a máfia. O cardeal Ernesto Ruffini, que foi arcebispo de Palermo entre 1945 e 1967, negava a existência da máfia, considerando o comunismo a maior ameaça à Igreja.
“Eu digo aos mafiosos: mudem, irmãos e irmãs! Parem de pensar em vocês mesmos e no seu dinheiro… Convertam-se ao verdadeiro Deus, Jesus Cristo, queridos irmãos e irmãs”, disse Francisco em seu sermão na região das docas.
“Eu digo a vocês, mafiosos, se vocês não fizerem isso, sua vida estará perdida e esta será sua maior derrota”, afirmou. “Hoje precisamos de homens e mulheres de amor, e não de homens e mulheres de honra; homens e mulheres de serviço, não de opressão”.
Muitos membros de grupos de crime organizado na Itália, como a Cosa Nostra siciliana ou a Ndrangheta, da Calábria, se veem como parte de um grupo religioso, quase como um culto, inclusive invocando a ajuda dos santos para suas atividades.
Especialmente em vilarejos menores e cidades do sul, eles participam de sacramentos católicos e em alguns casos também encontram a cumplicidade de alguns homens da Igreja.
(Reportagem de Philip Pullella)