Por Patpicha Tanakasempipat
BANGCOC (Reuters) – Uma jovem saudita que fugiu para a Tailândia afirmando ter medo de ser assassinada pela própria família deixou o país na sexta-feira com destino ao Canadá, onde obteve asilo, disse o chefe da imigração tailandesa.
A saga de Rahaf Mohammed al-Qunun chamou a atenção internacional nesta semana depois que ela se trancou em um quarto de hotel no aeroporto de Bangcoc para resistir a ser mandada de volta para sua família, que nega qualquer abuso.
Um vôo da Korean Air com Rahaf partiu de Bangcoc para Seul na noite de sexta-feira às 23h37 (horário local), disse à Reuters uma autoridade do aeroporto.
Rahaf embarcará em um voo de conexão para Toronto no aeroporto Incheon, em Seul.
“Era seu desejo ir ao Canadá”, disse o chefe da imigração da Tailândia, Surachate Hakparn, a repórteres.
“Ela ainda se recusa a se encontrar com seu pai e irmão, e eles vão viajar de volta hoje à noite também… Eles estão desapontados.”
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, confirmou nesta sexta-feira que seu país concedeu asilo à jovem.
Rahaf chegou a Bangcoc no sábado e, inicialmente, teve a entrada negada mas na área de trânsito do aeroporto de Suvarnabhumi ela começou a postar mensagens no Twitter afirmando que havia “escapado do Kuweit” e que sua vida estaria em perigo se fosse forçada a retornar à Arábia Saudita. Em poucas horas, uma campanha surgiu como #SalveRahaf, espalhada pelo Twitter por uma rede de ativistas.
Após 48 horas tensas no aeroporto de Bangcoc, algumas delas trancada em um quarto de hotel, ela pôde entrar no país e foi considerada uma refugiada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
Rahaf tem acusado sua família de abuso, e se recusou a encontrar seu pai e irmão que foram a Bangcoc tentar levá-la de volta à Arábia Saudita.
O caso chamou atenção para as rígidas normas sociais da Arábia Saudita, incluindo a exigência de que mulheres tenham a permissão de um “guardião” homem para poder viajar, o que, segundo grupos de direitos humanos, pode tornar mulheres e meninas prisioneiras de famílias abusivas.
A história também surge no momento em que Riad enfrenta rara vigilância de aliados do Ocidente, devido ao assassinato do jornalista Jamal Khashoggi dentro do consulado saudita em Istambul em outubro e às consequências humanitárias da guerra do Iêmen.
Na quarta-feira, a Austrália disse estar considerando receber Rahaf.
Por volta do meio-dia de sexta-feira, Rahaf postou em sua conta no Twitter que ela tinha “boas e más notícias!”, mas a conta ficou offline pouco tempo depois.
Um usuário do Twitter conhecido como Nourah, a quem Rahaf se referiu como um amigo, tuitou que Rahaf “recebeu ameaças de morte e por isso fechou sua conta no Twitter”.
(Reportagem de Patpicha Tanakasempipat; Reportagem Adicional de David Ljunggren em Ottawa)