Por Andrew Osborn e Robin Emmott
MOSCOU/BRUXELAS (Reuters) – A Rússia acusou os Estados Unidos de tentarem usurpar o poder na Venezuela e advertiu contra uma intervenção militar norte-americana no país, assumindo posição contrária à de Washington e da União Europeia, que apoiaram protestos contra um dos principais aliados de Moscou.
O líder da oposição venezuelana Juan Guaidó se autodeclarou presidente interino do país na quarta-feira, ganhando o apoio de Washington e da maioria da América Latina e fazendo com que o presidente socialista Nicolás Maduro, que lidera o país rico em petróleo desde 2013, rompesse os laços diplomáticos com os Estados Unidos.
A perspectiva da deposição de Maduro representa uma dor de cabeça geopolítica e econômica para Moscou que, junto com a China, tem se tornado um credor de Caracas, emprestando bilhões de dólares ao país. Moscou também tem fornecido apoio às Forças Armadas e à indústria petrolífera venezuelana.
Nesta quinta-feira, a Rússia acusou Washington estimular protestos de rua na Venezuela e de tentar derrubar Maduro, que chamou de presidente legítimo do país.
“Nós consideramos que a tentativa de usurpar a autoridade soberana na Venezuela contradiz e viola a base e os princípios da lei internacional”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
Peskov disse que a Rússia não recebeu um pedido de ajuda militar por parte da Venezuela e se recusou a dizer como o país responderia se recebesse. Maduro, que se encontrou com o presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou em dezembro, é o presidente legítimo da Venezuela, disse Peskov.
O Ministério de Relações Exteriores da Rússia também se pronunciou, afirmando que Washington está tentando determinar o destino de outros países utilizando a conhecida estratégia de derrubar governos que o desagradam.
A chancelaria também disse para Estados Unidos não intervirem militarmente, advertindo que uma interferência externa pode levar a um massacre. “Nós alertamos contra um aventureirismo do tipo que é carregado de consequências catastróficas”,
O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, também ofereceu apoio a Maduro.
“Meu irmão Maduro! Mantenha a cabeça erguida, nós estamos com você”, disse Erdogan, segundo publicação do porta-voz presidencial Ibrahim Kalin no Twitter.
A China, grande credora de Caracas, também expressou apoio a Maduro, dizendo se opor a qualquer interferência externa na Venezuela e apoiar esforços para proteger a independência e estabilidade do país.
“A China apoia os esforços feitos pelo governo venezuelano para proteger a soberania, a independência e a estabilidade do país”, disse a porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês Hua Chunying em um entrevista coletiva de rotina em Pequim.
“Quero enfatizar que as sanções externas ou interferências geralmente tornam a situação mais complicada e não ajudam a resolver os problemas reais”, acrescentou.
APOIO DA UE À OPOSIÇÃO
A União Europeia, que impôs sanções contra a Venezuela e boicotou a cerimônia de posse de Maduro no início deste mês, assumiu posicionamento diferente.
Embora tenha evitado acompanhar Washington no reconhecimento de Guaidó como presidente interino da Venezuela, o bloco pediu que autoridades respeitem os seus “direitos civis, liberdade e segurança” e pareceu apoiar pedidos por uma transição pacífica de poder no país.
“O povo da Venezuela clamou em massa pela democracia e pela possibilidade de determinar livremente seu próprio destino. Essas vozes não podem ser ignoradas”, disse o bloco em comunicado.
(Reportagem Adicional de Tom Balmforth, Maria Kiselyova, Christian Lowe e Maxim Rodionov em Moscow; Simon Carraud e Richard Lough em Paris, Christian Shepherd em Pequim, Ezgi Erkoyun em Istambul e Belen Carreño e Paul Day em Madri)