Por Mitra Taj
LIMA (Reuters) – A maior parte dos países da América Latina reconheceu o líder da oposição venezuelana Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, deixando Nicolás Maduro ainda mais isolado enquanto enfrenta instabilidade em casa e ameaças dos Estados Unidos.
Bolívia e Cuba, aliados de esquerda de longa data da Venezuela, foram os únicos países da região a expressar explicitamente apoio a Maduro, enquanto Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, Honduras, Panamá, Paraguai e Peru apoiaram Guaidó.
Os Estados Unidos e o Canadá também reconheceram Guaidó –o líder de 35 anos da Assembleia Nacional, controlada pela oposição– como o governante legítimo da Venezuela.
Entretanto, o México –antes um integrante vocal do Grupo de Lima, criado para pressionar Maduro a promover reformas democráticas– assumiu um tom dissonante sob o governo do presidente de esquerda Andrés Manuel López Obrador, dizendo que não tomará partido e descrevendo o apoio a Guaidó como uma violação da soberania venezuelana.
Guaidó se declarou presidente temporário da Venezuela na quarta-feira durante manifestação que atraiu centenas de milhares de venezuelanos. Ele acusou Maduro de usurpar o poder e prometeu criar um governo de transição.
As críticas a Maduro têm crescido nos últimos anos à medida que seu governo marginalizou a Assembleia Nacional, conduziu eleições amplamente questionadas e passou por uma crise econômica que tem forçado milhões de venezuelanos a fugir do país, principalmente para outras nações da América do Sul.
Ao mesmo tempo, governos de direita têm chegado ao poder em lugares onde Maduro antes tinha aliados.
O governo brasileiro afirmou, em nota do Ministério das Relações Exteriores, que está comprometido em apoiar o “processo de transição” no país vizinho, e o presidente Jair Bolsonaro comentou a situação do país vizinho durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos.
“A história tem nos mostrado que ditaduras não passam o poder para a oposição de forma pacífica, e nós tememos as ações da ditadura Maduro”, disse Bolsonaro em entrevista à TV Record.
“Obviamente tem países fortes dispostos a outras consequência… como anunciado pelo governo Trump. Obviamente o Brasil acompanha com muita atenção e estamos no limite daquilo que podemos fazer para restabelecer a democracia naquele país”.
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, escreveu em publicação no Twitter na quarta-feira: “A Argentina irá apoiar todos os esforços de reconstrução da democracia venezuelana e o restabelecimento de condições de vida dignas para todos os seus cidadãos”,
Macri assumiu o cargo em 2015, substituindo a ex-aliada de Maduro Cristina Kirchner.
Maduro pediu que as Forças Armadas permaneçam unidas e rompeu relações diplomáticas com Washington, que acusou de tentar orquestrar um golpe de Estado com a ajuda de seus aliados na região.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reiterou que “todas as opções estão sobre a mesa” e seu governo sugeriu a possibilidade de impor novas sanções contra o vital setor de petróleo da Venezuela.
O México disse que ainda reconhecerá Maduro como o presidente legítimo da Venezuela e pediu diálogo.
“O México não faz parte dessa tentativa de tomar partido e promover um tipo de intervenção interna”, disse o porta-voz presidencial Jesús Ramírez, em entrevista.
Sob o governo de López Obrador, o México voltou à sua tradicional política externa de não-intervenção.
“Nós mantemos nossa posição de neutralidade e não-intervenção no conflito na Venezuela”, disse Ramírez.
(Reportagem de Marco Aquino, em Lima; Luis Jaime Acosta, em Bogotá; Adriana Barrera, na Cidade do México; Anthony Boadle, em Brasília; Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro; Gabriel Burin, em Buenos Aires; Corina Pons, em Caracas; Daniel Ramos, em La Paz; e Sarah Marsh, em Havana)