RIAD (Reuters) – As mulheres chegam às ruas e estradas da Arábia Saudita neste domingo com o fim da proibição que as impedia de dirigir, última do tipo no mundo, uma exclusão há muito vista como um símbolo da repressão contra as mulheres no reino conservador.
A medida, ordenada em setembro passado pelo rei Salman, é parte de um programa abrangente de reformas defendido pelo príncipe Mohammed bin Salman, seu jovem e poderoso filho, que busca transformar a economia do principal exportador de petróleo do mundo e abrir a fechada sociedade do país.
“Nós estamos prontas e isso vai mudar totalmente as nossas vidas”, disse Samira al-Ghamdi, uma psicóloga de 47 anos, uma das primeiras mulheres sauditas a receber uma carteira de motorista.
O fim da proibição, que por anos atraiu condenação internacional e comparações com o regime do Taliban no Afeganistão, tem sido celebrado pelos aliados ocidentais como uma prova de uma nova tendência progressista na Arábia Saudita.
No entanto, a medida está sendo acompanhada por uma forte repressão contra opositores, incluindo contra algumas das ativistas que fizeram campanha pelo fim da proibição. Elas estarão na cadeia no momento em que as mulheres vão dirigir legalmente pela primeira vez.
Mulheres sauditas com carteiras estrangeiras começaram a converter a permissão somente no início deste mês. Assim, o número de motoristas mulheres vai continuar baixo inicialmente. Vai levar algum tempo até que outras mulheres que estão aprendendo a dirigir em escolas administradas pelo Estado cheguem às ruas.
Algumas mulheres ainda enfrentam resistência de parentes conservadores. Muitas acostumadas com motorista particular se dizem relutantes em enfrentar as movimentadas rodovias do reino muçulmano.
“Eu definitivamente não vou gostar de dirigir”, declarou Fayza al-Shammary, vendedora de 22 anos. “Eu gosto de ser uma princesa com alguém abrindo a porta do carro para mim e me levando para qualquer lugar.”
Preocupações de que as mulheres podem vir a sofrer abusos no país de regras de segregação estritas, que costumam impedir que uma mulher interaja com um homem estranho, levou à adoção de uma nova lei no mês passado que prevê prisão e multas para o assédio sexual.
O ministro do Interior planeja contratar mulheres para policiar o trânsito pela primeira vez, mas não está claro quando elas irão para as ruas.
A decisão de terminar com a proibição deve estimular a economia, como, por exemplo, a indústria de veículos e seguros. Também deve encorajar a participação de mais mulheres na força de trabalho.
Empresas de veículos estão fazendo campanhas publicitárias por conta do fim da proibição e estacionamentos privados estão separando áreas para mulheres motoristas com sinalização rosa.
Apesar do fim da proibição, a Arábia Saudita permanece como um dos países em que as mulheres sofrem mais restrições. Elas precisam de permissão dos seus guardiões para tomar decisões relacionadas por exemplo a casamento e viagem ao exterior.
(Reportagem adicional de Marwa Rashad, Sarah Dadouch e TV Reuters)