ISTAMBUL (Reuters) – O jornalista Jamal Khashoggi disse “não consigo respirar” várias vezes aos assassinos durante os últimos momentos no consulado saudita em Istambul, disse a rede CNN nesta segunda-feira.
Citando uma fonte que disse ter lido a íntegra da transcrição traduzida de uma gravação de áudio, a CNN disse que Khashoggi reconheceu um dos homens, o general Maher Mutreb, que lhe disse: “Você vai voltar”.
Khashoggi respondeu: “Vocês não podem fazer isso… há pessoas esperando lá fora”.
Sua noiva turca, Hatice Cengiz, esperou durante horas do lado de fora do consulado no dia 2 de outubro, e quando ele não voltou procurou as autoridades da Turquia para comunicar seu desaparecimento.
Não houve mais nenhum diálogo na transcrição relativamente curta, preparada pelas autoridades turcas, disse a fonte da CNN.
Khashoggi começou a ter dificuldades para respirar quando as pessoas se lançaram sobre ele, repetindo “não consigo respirar” ao menos três vezes. Depois a transcrição usou palavras no singular para descrever os ruídos, como “grito”, “ofegando”, “serra” e “cortando”.
Fontes turcas disseram à Reuters que uma serra de osso foi usada para esquartejar o jornalista.
A transcrição não incluiu nenhuma menção adicional sobre levar Khashoggi de volta à Arábia Saudita e nenhuma indicação de que ele foi drogado — como o procurador-geral saudita afirmou em novembro.
Uma das vozes foi identificada pelas autoridades turcas na transcrição como a do doutor Salah al-Tubaigy, um perito forense especializado em autópsias ligado ao Ministério do Interior saudita, noticiou a CNN.
Tubaigy aconselha outros a colocarem fones de ouvido ou ouvirem música como ele, disse a fonte da CNN.
Mutreb, autoridade de inteligência de alto escalão que é parte da equipe de segurança do príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, chamou autoridades e detalhou o passo a passo da operação, relatou a CNN, dizendo ao final: “Digam ao seus que a coisa está feita, está feita”.
Na semana passada autoridades turcas disseram que a Procuradoria de Istambul concluiu haver uma “forte suspeita” de que Saud al-Qahtani, assessor graduado do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, e o general Ahmed al-Asiri, que atuou como vice-diretor do serviço de inteligência estrangeira, estão entre os mentores do assassinato de Khashoggi.
A Arábia Saudita disse que o príncipe não teve conhecimento prévio do crime. Depois de oferecer várias explicações contraditórias, Riad disse mais tarde que Khashoggi foi morto e que seu corpo foi esquartejado quando negociações para persuadi-lo a voltar à Arábia Saudita fracassaram.
Uma autoridade turca disse que, extraditando todos os suspeitos à Turquia, as autoridades sauditas podem responder às preocupações da comunidade internacional, mas o ministro das Relações Exteriores de Riad, Adel al-Jubeir, descartou a ideia no domingo.
(Por Sarah Dadouch)