Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) – A proposta de reforma da Previdência, considerada pelo presidente eleito Jair Bolsonaro e por seus principais aliados como prioridade do novo governo, só deverá ser enviada ao Congresso a partir de fevereiro, após o início das atividades parlamentares, informou à Reuters nesta sexta-feira uma pessoa envolvidas nas conversas sobre o projeto.
Logo após a vitória no segundo turno de Bolsonaro, a equipe econômica do futuro governo pretendia aproveitar a reforma apresentada pelo governo Michel Temer — e posteriormente enviar um texto mais enxuto em 2019 complementando a reforma. Mas as negociações não avançaram, e a equipe trabalha agora para apresentar uma única proposta, com maior envergadura.
Uma fonte da equipe econômica, que pediu anonimato, disse que a intenção é mandar um texto somente após a abertura dos trabalhos do Congresso, sob o argumento de que remeter a proposta antes disso poderia deixá-la exposta a mais questionamentos sem que pudesse avançar.
Segundo a fonte a par das conversas e ligada à área política do governo, isso poderá ocorrer somente em março, após o Carnaval.
Em entrevista coletiva na quinta-feira, o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que a reforma está mais madura e que “no momento certo” vai aparecer. Na ocasião, ele divulgou um documento com as metas dos 100 primeiros dias do governo em que não havia referência à proposta da Previdência.
“O ministro Paulo Guedes e toda a sua equipe já estão superdebruçados para tentar e esse é um sonho nosso, zerar o déficit no próximo ano. Eu digo a ele que, se ele conseguir, o vinho é por minha conta, e é vinho gaúcho”, disse Onyx a jornalistas.
Integrantes do PSL têm afirmado que as pautas mais importantes do futuro governo não são as chamadas conservadoras, mas as pautas econômicas, e a reforma da Previdência é prioridade.
A intenção, segundo a pessoa a par das tratativas, envolve a criação de bloco partidário de apoio a Bolsonaro e conquistar o apoio de mais de os 308 votos necessários na Câmara para passar a agenda do governo, em especial a reforma da Previdência. Esse número é o mínimo necessário para se passar uma emenda à Constituição na Casa.
Para tanto, Onyx tem se reunido nas últimas semanas com dirigentes de partidos como MDB, PP, PSD e PRB e declarado a disposição de formar um bloco para dar sustentação a Bolsonaro na Câmara independentemente da disputa para o comando daquela Casa Legislativa, como revelou o deputado João Campos (PRB-GO), candidato à Presidência da Câmara e que esteve com Onyx nesta sexta-feira.
Essas conversas de integrantes do futuro governo com lideranças e representantes de direções partidárias diferem da estratégia original da equipe de Bolsonaro de articular apoios no Congresso por meio de bancadas temáticas, como a dos evangélicos, do agronegócio e da segurança pública.
A deputada federal eleita Bia Kicis (PSL-DF), que também participou de reunião com Onyx, destacou que a reforma é “fundamental” e acrescentou que todos os candidatos à Presidência da Câmara “terão de apoiar” as mudanças na Previdência, do contrário não terão a “menor chance” de se elegerem.