Por Ursula Scollo
LIMA (Reuters) – O procurador-geral do Peru, Pedro Chavarry, demitiu na segunda-feira dois importantes promotores que investigavam as alegações de propinas da Odebrecht a funcionários púbicos, políticos e até ex-presidentes do país para ganhar licitações de obras públicas.
Após o anúncio, o presidente Martín Vizcarra manifestou rechaço à decisão do chefe do Ministério Público. Chavarry, em uma entrevista concedida à imprensa, anunciou a demissão do promotor-chefe Rafael Vela do cargo de coordenador do grupo de trabalho que investiga as alegações derivadas da operação Lava Jato e do promotor José Pérez, que faz parte desta mesmo equipe, por supostamente não respeitarem a hierarquia do Ministério Público.
Vela e Pérez serão substituídos pelos promotores Frank Almanza e Marcial Paucar, respectivamente.
“O promotor Pérez, após sua designação, passou a questionar a minha escolha que havia sido feita por unanimidade pelos promotores supremos e este comportamento foi repetido em diferentes circunstâncias e locais, fato que afeta não só a mim mas a autonomia do Ministério Público”, disse Chavarry.
“Esse comportamento foi endossado pelo coordenador Vela Barba”, acrescentou o procurador-geral.
Enquanto isso, Vizcarra disse em sua conta no Twitter que “diante destes novos eventos, decidi antecipar o meu retorno ao país para seguir encabeçando a luta contra a corrupção e a impunidade”. Vizcarra tinha viajado ao Brasil para participar da posse do presidente eleito Jair Bolsonaro.
A decisão do procurador-geral acontece depois dos dois promotores fecharem um acordo de colaboração com a Odebrecht, que inclui o pagamento de uma milionária multa de reparação civil por parte da construtora e a cooperação dela em investigações contra políticos e funcionários que teriam recebido propinas.
Vela e Pérez, que contam com amplo apoio da opinião pública, investigaram recentemente os laços da Odebrecht com o ex-presidente Alan García e com a líder da Força Popular Keiko Fujimori.
Além disso, a equipe de promotores está a cargo da investigação contra os ex-presidentes Pedro Pablo Kuczynski e Alejandro Toledo Ollanta Humala por supostamente terem recebido aportes ilegais da empresa brasileira.
Na semana passada, o promotor Pérez denunciou Chavarry por supostamente obstruir a justiça em um caso envolvendo Fujimori e o próprio procurador-geral, que também é investigado junto a uma rede de juízes acusados de corrupção.
Organizações civis anunciaram protestos contra o procurador-geral; enquanto políticos de vários partidos manifestaram rejeição contra a decisão que dizem comprometer o recente acordo de colaboração com a Odebrecht.
“Lamentamos a decisão do Ministério Público. Nós acreditamos que não é apropriado, já que estamos prestes a assinar o acordo final (com a Odebrecht) no dia 11 de janeiro” no Brasil, disse o promotor do caso Jorge Ramirez ao canal N do Peru.