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Valdemar cria outro tumulto – quantos mais teremos até 2023?

Nem bem os bloqueios nas rodovias federais começaram a minguar, outra iniciativa para tumultuar a transição de poder surgiu no horizonte: o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, declarou que apresentaria um relatório ao Tribunal Superior Eleitoral denunciando irregularidades em 250 000 das 572 000 urnas eletrônicas. Segundo Valdemar, todas essas urnas – produzidas antes de 2020 – têm o mesmo número de registro e, assim, é impossível auditá-las.

Esse assunto já foi debatido antes, quando o TSE lembrou que todos os dispositivos têm lacres de segurança, com uma numeração sequencial própria de 7 dígitos – e que a remoção desses lacres deixaria evidente a tentativa de violação ou falsificação. Além disso, bastaria um cruzamento de dados para se chegar ao resultado individual de cada dessas urnas antigas.

Mas uma entrevista feita pelo portal Poder 360 parece botar uma pá de cal nessa discussão. O professor e pesquisador do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais da Escola Politécnica da USP, Marcos Simplício, afirma que existe, de fato, um “bug” no sistema, mas que as urnas fabricadas antes de 2020 podem ser identificadas individualmente.

Segundo Simplício, o problema no sistema gera um “log” (número de registro) igual para os equipamentos antigos. Mas os mesmos “logs” registram também o município, a zona e a seção eleitoral de cada equipamento. Assim, basta cruzar essas informações com os boletins eleitorais e poderemos confrontá-los com os números registrados no Tribunal.

Valdemar disse que não vai pedir novas eleições, nem quer “tumultuar a vida do país”. Na prática, porém, está fazendo exatamente isso: tumultuando o processo eleitoral, colocando mais lenha na fogueira e levantando detalhes técnicos que poucos brasileiros têm condições de analisar com desembaraço.

“Há, sim, um ‘bug’ no software, e seria bom investigar a causa dele, além de corrigir. Agora, dizer que é impossível correlacionar univocamente esse ‘log’ com o boletim de urna, invalidando a possibilidade de auditoria é uma interpretação um tanto criativa”, afirmou o professor Simplício.

Infelizmente, o inconformismo com os resultados de 30 de outubro não vai parar por aí.

Tentativas de amotinar o clima pós-eleitoral vão continuar, seja através de manifestações pacíficas, teorias da conspiração ou intervenções violentas (como o bloqueio das estradas, nos quais motoristas que não querem parar nas rodovias são ameaçados covardemente). Isso vai colocar a nação em estado de tensão permanente até que Luiz Inácio Lula da Silva receba a faixa presidencial na manhã de 1º de janeiro (ainda não se sabe de quem).

Faz sentido tentar bloquear o resultado das urnas? A ruptura democrática é um processo imprevisível. Sabe-se como ele começa, mas não se tem a menor ideia de como termina. Tomemos das duas ditaduras brasileiras do século 20. Getúlio Vargas tomou o poder com a promessa de realizar um governo transitório, no qual convocaria uma Assembleia Nacional Constituinte e eleições presidenciais. Não fez nem uma coisa, nem outra – e ficou quinze anos à frente do regime de exceção.

Com o movimento de 1964, não foi diferente. O marechal Humberto Castello Branco assumiu a presidência também com a promessa de arrumar a casa e chamar eleições dois ou três anos depois. O que se viu, entretanto, foi um rodízio de generais no comando do país (com exceção da junta militar em 1969, depois que Artur da Costa e Silva teve uma trombose cerebral) até a posse de José Sarney em 15 de março de 1985 (o presidente eleito pelo então Colégio Eleitoral, Tancredo Neves, estava internado e viria a falecer em 21 de abril).

Muitos inconformistas dizem que se o PT tomar posse não sairá mais do poder. Isso, porém, é mera especulação. A alternância de poder é algo que teremos toda a vez em que uma administração desagradar os eleitores. Tivemos no passado quatro eleições consecutivas vencidas por Lula e Dilma Rousseff, é verdade. Mas o país tinha passado por uma onda mundial favorável (o boom das commodities) que foi devidamente surfada pelos petistas. Mesmo que algo semelhante ocorra novamente, Lula não deve disputar outra eleição – e, mesmo que o faça, nada garante sua vitória. Portanto, aos anticonformistas, aqui vai uma palavra de conciliação: comecem a trabalhar por 2026. Essa eleição foi perdida devido a erros previsíveis. Façam uma análise honesta e um mea culpa. Só assim a direita terá uma chance de se recompor novamente daqui a quatro anos.

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