Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) – A menos de três meses do primeiro turno da eleição presidencial, a indefinição das alianças fez com que a maioria dos partidos empurrasse para o fim do prazo legal a realização das convenções partidárias.
A nuvem de incertezas que paira sobre a eleição de outubro se deve a fatores que vão desde as dúvidas em torno do caminho que tomará o PT, diante da provável inelegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas, à viabilidade do vice-líder Jair Bolsonaro (PSL), passando pelo alto índice de eleitores ainda indecisos.
“Ao contrário do que sempre aconteceu –mesmo se você pegar 1989, que é a eleição que todo mundo diz que é a mais parecida com essa– a três meses da eleição, que é onde nós estamos, os cenários já estavam todos muito claros”, disse Danilo Gennari, sócio da Distrito Relações Governamentais em Brasília.
O PDT dará a largada do período de convenções na sexta-feira, mas deverá ainda buscar apoios depois de formalizar Ciro Gomes, e será seguido pelo PSL, de Bolsonaro, no domingo.
PSDB, PT, Rede, MDB e Podemos decidiram deixar suas convenções para o início de agosto, perto do prazo final para realização dos encontros no dia 5 de agosto.
“Como os cenários ainda estão muito abertos, faz sentido que os partidos joguem a definição o mais para frente possível para deixar ainda em aberto a possibilidade de, aos 45 do segundo tempo, fechar alguma aliança”, disse Gennari.
A indefinição sobre as alianças eleitorais tem pesado sobre os mercados de câmbio e de juros futuros, uma vez que investidores temem uma mudança drástica na condução da política econômica no próximo mandato.
NEGOCIAÇÕES
A situação de Lula, preso desde abril em Curitiba para cumprir pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo do tríplex no Guarujá (SP), impõe um dilema ao PT. O partido pretende registrar a candidatura do ex-presidente, mas como ele deve ficar inelegível pela Lei da Ficha Limpa, a sigla deverá apostar na capacidade de transferência votos de Lula.
São apontados como possíveis herdeiros da candidatura petista, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, cujo nome tem sido alvo crescente de negociações dentro do PT.
“A grande questão é: dentro da cadeia, sendo cerceado de todas as formas, como é que ele vai fazer essa transferência?”, argumentou Gennari.
Bolsonaro, por sua vez, chegou a sonhar em ter o senador Magno Malta (PR-ES) como vice. O acerto com o PR daria ainda mais tempo de TV e robustez à estrutura de campanha do capitão da reserva.
Malta, no entanto, preferiu tentar a reeleição ao Senado e as conversas com o PR, do ex-deputado Valdemar Costa Neto, não evoluíram, depois que o PSL se recusou a ceder às exigências da legenda. Assim, Bolsonaro deverá ir para a campanha sem alianças de peso.
Atualmente terceira colocada nas pesquisas, Marina Silva (Rede) também deve engrossar o bloco do chamado “eu sozinho”, já que até o momento, assim como Bolsonaro, não costurou qualquer aliança significativa para a campanha.
BRIGA PELO BLOCÃO
Diferentemente de PT, de Bolsonaro e de Marina, o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, e Ciro têm negociado freneticamente nos bastidores em busca de alianças e cortejado principalmente o chamado blocão, grupo de partidos liderados por DEM e PP.
No momento, Ciro parece mais próximo de assegurar apoio do blocão, o que daria um impulso em termos de tempo de televisão e estrutura de campanha, mas este cenário ainda segue nebuloso e esses apoios podem tanto acabar nas mãos de Alckmin como terminarem divididos entre os dois.
O pedetista disputa ainda, com o PT, o apoio do PSB.
Gennari lembra que deve pesar no processo decisório desses partidos também as alianças regionais, que são importantes para a eleição de deputados federais e senadores –principal prioridade eleitoral para siglas como DEM, PP e PR. Por exemplo, lembra ele, o PP é aliado do PT na Bahia, e o DEM é oposição ao governador petista Rui Costa.
Pesa também contra Alckmin, na avaliação de Gennari, a necessidade de caciques partidários fecharem alianças que ajudem na eleição de grandes bancadas no Nordeste, região onde Alckmin tem pouco apelo.
Ao contrário de Ciro, no entanto, o tucano já tem apoios fechados. PSD, PTB, PPS e PV devem formalizar em suas convenções apoio ao ex-governador de São Paulo, o que já renderia por volta de um quinto do tempo de TV. Gennari, no entanto, relativiza a façanha.
“O PSD é um partido de expressão, o PTB também. O PPS está praticamente dizimado, o PV também. Então em termos de tempo de TV, de recursos, de capilaridade… é importante em termos de volume de apoio, mas todos eles somados não dá o PP”, disse o analista.
O ex-ministro da Fazenda e pré-candidato do MDB, Henrique Meirelles, ainda não conseguiu atrair apoios. Se de um lado ele representa o maior partido do país, de outro ele sofre com a rejeição à legenda e ao presidente Michel Temer e enfrenta a oposição até mesmo de caciques do partido, como o senador Renan Calheiros (AL).
Em meio a tantas indefinições, outra sigla que vem sendo cortejada por Ciro, Alckmin e também por Meirelles, é o PRB, que tinha um pré-candidato –o empresário Flavio Rocha, que desistiu nesta semana– e agora negocia junto com o blocão.
“Tudo pode acontecer. Não acabou ainda, pelo contrário, só está começando”, resumiu Gennari.
(Reportagem adicional de Laís Martins, em São Paulo, e de Ricardo Brito, Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello, em Brasília)