Por Eduardo Simões e Pedro Fonseca
SÃO PAULO/NITERÓI (Reuters) – O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa afirmou nesta terça-feira que não pretende ser candidato a presidente da República, numa decisão que muda o cenário para a eleição presidencial deste ano e que tem potencial para beneficiar o campo centrista.
O anúncio de Barbosa, que disse em sua conta no Twitter tratar-se de uma “decisão estritamente pessoal”, também lança uma incógnita sobre o destino do PSB na disputa. A sigla –que tem uma ala próxima a Alckmin, mas que também chegou a manter conversas com o PDT, do presidenciável Ciro Gomes– disse que buscará construir alternativas ao país.
“Está decidido. Após várias semanas de muita reflexão, finalmente cheguei a uma conclusão. Não pretendo ser candidato a presidente da República. Decisão estritamente pessoal”, afirmou Barbosa em sua conta no Twitter.
O ex-ministro se filiou ao PSB no fim do prazo necessário para garantir a participação na eleição de outubro se assim desejasse, mas vinha dizendo que ainda não havia decidido se seria ou não candidato.
Em nota, o partido disse que a definição de Barbosa “ocorre nos termos da pactuação realizada em sua filiação”, quando nem o partido lhe assegurou legenda para a disputa e nem o ex-ministro prometeu que se candidataria.
“O PSB segue doravante, com serenidade, na tentativa de contribuir para a construção de alternativas para o país, que contemplem os amplos clamores populares, pela renovação da prática política, algo que a possibilidade da candidatura do ministro Joaquim Barbosa tão bem representou”, afirma a nota do PSB.
Em pesquisa Datafolha realizada no mês passado, Barbosa chegava a ter 10 por cento das intenções de voto em seu melhor cenário. Tanto analistas como políticos viam grande potencial na sua candidatura.
Uma das dificuldades postas à candidatura de Barbosa eram as questões locais do PSB. Em São Paulo, por exemplo, o governador Márcio França era vice e assumiu o cargo em abril após a renúncia do tucano Geraldo Alckmin para disputar a Presidência. França chegou a defender publicamente a candidatura presidencial de Alckmin.
Em nota após a decisão de Barbosa, França disse que o ex-presidente do STF não foi o primeiro e nem será o último “outsider” a desistir da disputa presidencial deste ano.
“A política hoje exige experiência e enorme capacidade de suportar críticas e injustiças. O ministro Joaquim Barbosa é um dos homens mais capazes que já conheci e que certamente vai continuar contribuindo para o país, mesmo não sendo candidato”, disse o governador.
Em Pernambuco, terra de lideranças históricas do PSB, como Miguel Arraes e Eduardo Campos, que era candidato à Presidência em 2014 até morrer em um acidente aéreo em agosto daquele ano, o receio era que a candidatura de Barbosa dificultasse uma composição local com o PT. Procurada, a direção estadual do PSB no Estado afirmou reiterar a nota da direção nacional da legenda.
Uma fonte do PSB que pediu para não ter seu nome revelado, disse à Reuters que a decisão de Barbosa não pode ser considerada uma surpresa. “Não dá pra dizer que a decisão dele está fora do previsto, das hipóteses estabelecidas, desde o início”, disse a fonte.
REAÇÕES E BENEFICIÁRIOS
Para o analista da Tendências Consultoria Rafael Cortez, a decisão de Barbosa mostra o alto custo de entrada em uma disputa presidencial, especialmente em um partido como o PSB que não tem a mesma capilaridade de legendas maiores e no qual uma candidatura nacional pode afetar arranjos locais.
“É uma decisão que em boa medida beneficia sobretudo o Geraldo Alckmin, que é a centro-direita tradicional que vinha enfrentando concorrência relevante para mobilizar o anti-petismo e o eleitorado descontente com o governo”, disse Cortez, que aponta que a pré-candidata da Rede, Marina Silva, também pode se beneficiar da decisão.
Na avaliação do sócio da Distrito Relações Governamentais Danilo Gennari, a decisão de Barbosa reforça a expectativa de redução no número de candidatos.
“Acho que limpa um pouco o terreno e começa a deixar as coisas mais claras. E coloca o PSB agora numa posição de começar a negociar apoio”, disse o analista.
Uma liderança emedebista, que pediu para não ser identificada, avaliou que a desistência abre um pouco de espaço para os candidatos do chamado centro político, mas admitiu que a tendência é de o PSB se coligar com algum partido de esquerda, como o PDT do pré-candidato Ciro Gomes.
Em Niterói, onde participou de evento da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Ciro disse que o anúncio de que Barbosa não participará do jogo eleitoral não devia ser comemorado. Ele disse que a presença do ex-ministro era boa para o debate e teceu elogios ao PSB.
“O PSB acho que deve –independentemente de ter candidato ou não– ser reconhecido como partido que tem grande tradição na luta do povo brasileiro”, disse Ciro.
Candidata à Presidência pelo PSB em 2014 após a morte de Campos, Marina disse respeitar a decisão de Barbosa e voltou a afirmar que tem canal de diálogo com as siglas que a apoiaram há quatro anos, caso do PSB.
“Mas obviamente que com o necessário respeito à dinâmica interna do PSB que agora, enfim, irá fazer suas novas avaliações”, disse Marina ao participar do mesmo evento.
Alckmin, por sua vez, usou sua conta no Twitter para afirmar que lamenta a decisão do ex-presidente do STF. Mais tarde, em evento na Associação Comercial do Rio de Janeiro, disse que já gostaria de estar caminhando ao lado do PSB.
“Se dependesse de mim, nós já estávamos juntos do PSB, mas temos que respeitar o outro partido que tem uma lógica própria”, disse Alckmin.
O presidente da Câmara e presidenciável do DEM, Rodrigo Maia, disse que a decisão de Barbosa “deixa o jogo cada vez mais aberto” e garantiu que leva sua candidatura “até o fim”.
Também fez a avaliação de que seria bom Barbosa participar do debate e que é difícil saber quem herdará a intenção de votos do ex-ministro. “Eu acho que pode pulverizar. Ele ainda não tinha se posicionado do ponto de vista ideológico, era mais uma representação de algo, vamos dizer, de fora da política”, disse Maia.
Pré-candidato do Podemos ao Planalto, o senador Alvaro Dias, disse admirar Barbosa e avaliou que sua ausência empobrece o debate eleitoral.
“Mas certamente a ausência dele deixa o espaço aberto no campo da ética… Espero sim herdar votos do Joaquim Barbosa”, disse Dias também em Niterói.
Outro que apontou a si próprio como beneficiário da desistência de Barbosa foi o pré-candidato do PRB, o empresário Flávio Rocha, que disse ainda prestar “homenagens” ao ex-presidente do Supremo.
“Com relação ao efeito sobre a nossa candidatura, eu acho que nossa candidatura, neste momento de crescimento, é um desaguadouro natural desse eleitorado por esse anseio por renovação, por ficha limpa.”
O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que tenta viabilizar sua candidatura pelo MDB, viu na saída de Barbosa uma oportunidade de crescimento.
“Acho que esses eleitores (que votariam em Barbosa) estarão dispostos a votar em quem tem um passado, uma história de probidade, uma história de integridade pessoal, além de competência e seriedade”, disse Meirelles em Niterói.
(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro; Maria Carolina Marcello e Ricardo Brito, em Brasília)