Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) – A eventual escolha da senadora gaúcha Ana Amélia (PP) como candidata a vice na chapa encabeçada pelo pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin, deve ser tratada como uma espécie de “cota pessoal” do presidenciável tucano, afirmaram reservadamente à Reuters três dirigentes da cúpula partidária.
Em entrevista coletiva logo após a convenção do PP que selou o apoio da legenda a Alckmin, a senadora confirmou ter sido “sondada” para o cargo e que ficou de dar uma resposta ainda nesta quinta. Mais cedo a Reuters havia adiantado essa negociação.
Segundo as fontes ouvidas pela Reuters, entretanto, a gaúcha Ana Amélia é tida por integrantes da atual cúpula do PP como uma senadora independente e que não tem trânsito na direção partidária, que é comandada pelo senador Ciro Nogueira, do Piauí.
Por isso, nos bastidores, começa a crescer um discurso de que a escolha dela –apesar de ser avalizada pela direção partidária– seria estritamente uma decisão do Alckmin.
“Não tem como rejeitar uma escolha de vice, mas ela (Ana Amélia) não é do núcleo do poder do partido”, resumiu uma das lideranças ouvidas pela Reuters.
No governo do presidente Michel Temer, o PP mantém o controle dos ministérios da Saúde, da Agricultura e das Cidades, além da Caixa Econômica Federal.
O partido trabalha para, após ter fechado o apoio a Alckmin, se tornar um dos principais polos de sustentação de uma eventual gestão do tucano no Planalto. Nesse raciocínio, a intenção da cúpula do PP é, independentemente da escolha de Ana Amélia para vice, ter importantes espaços na Esplanada dos Ministérios em um governo do PSDB.
Publicamente, dirigentes da legenda dizem não ter qualquer restrição, ou mesmo veto, ao nome da senadora gaúcha.
“Qualquer membro progressista agrada ao partido”, disse o presidente do PP, em rápida entrevista após a convenção do partido que formalizou o apoio ao ex-governador paulista.
REPOSTA
A senadora foi tratada na convenção do PP como uma vice de Alckmin, que também compareceu ao encontro. Na plateia, simpatizantes defenderam seu nome para a composição, durante os discursos. Ela não posou para fotos ao lado do pré-candidato do PSDB.
Em entrevista, Ana Amélia admitiu ter sido sondada para ser vice de Alckmin por “várias pessoas” e disse que ficou de dar uma resposta até o final do dia.
A senadora afirmou que a decisão não é uma “questão individual” e destacou que precisa ponderar uma série de fatores. Ela disse que está “muito bem” colocada em sua candidatura à reeleição ao Senado e que o cargo de vice “deixou de ser um cargo decorativo” no país.
“É preciso ponderar a relevância que tem o cargo de vice-presidente da República. Tem um outro alcance. É para o Executivo. Claro que um vice-presidente tem um papel de negociador com o Congresso Nacional, porque 2019 vai ser um ano muito demandado na relação do Parlamento com o Poder Executivo, porque as grandes reformas ainda não foram feitas”, argumentou, ao dizer que não foi sondada diretamente por Ackmin.
A senadora disse que “continua independente”, mas mantém uma relação “respeitosa” com o presidente do PP. Ela iria almoçar nesta quinta com o deputado federal Luiz Carlos Heinze, que é candidato ao governo estadual pelo partido. Uma eventual saída dela da disputa ao Senado também vai mudar o xadrez da composição do PP no Estado.
Mais cedo em entrevista, Alckmin disse que não tem nada fechado em torno da escolha de Ana Amélia, que a questão está encaminhada, mas pode ser definida até sábado –dia da convenção do PSDB que vai oficializar o seu nome na disputa ao Planalto. E elogiou a senadora.
“Não tem nada decidido. Sempre tenho dito que essa é uma decisão até sábado, mas quero destacar as qualidades da senadora Ana Amélia, uma das melhores senadoras do Brasil, a força e a garra das mulheres. Vamos aguardar”, disse o tucano.