Por Ricardo Brito e Eduardo Simões
BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) – Numa reviravolta nas negociações de alianças para a eleição presidencial, o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, e interlocutores próximos conseguiram anular nos últimos dias um quase acerto do pedetista Ciro Gomes com o chamado blocão e o grupo agora se encontra bem encaminhado para um acordo com o tucano nos próximos dias, segundo fontes ouvidas pela Reuters.
A cúpula do PDT e até mesmo lideranças do blocão –formado por PP, DEM, PRB, PR e SD– admitiam que estava praticamente certo um acordo com Ciro, mas uma sucessão de atitudes do próprio presidenciável pedetista somada à ofensiva de Alckmin e aliados levaram a uma mudança de humor nesse xadrez.
O secretário-geral do PSDB, deputado federal Marcus Pestana (MG), afirmou à Reuters que a negociação para fechar a aliança com o blocão está indo bem, mas há questões pontuais que estão sendo conduzidas por Alckmin pessoalmente.
“Nós temos que respeitar o tempo dos potenciais aliados. Nós temos mais afinidades, e o Ciro Gomes ajuda a realçar isso. Quando ele mostra o apreço que ele tem pelo Ministério Público, quando ele trata da questão da Boeing com a Embraer, facilita bastante o nosso trabalho”, disse Pestana (MG), que enfatizou que um anúncio caberá aos partidos do blocão.
Lideranças do blocão –formado por PP, DEM, PR, PRB e SD– afirmaram à Reuters, de forma reservada, que está mais perto o acerto com o pré-candidato do PSDB.
“Alckmin está na frente agora”, admitiu um presidente de um partido do blocão à Reuters, sob a condição do anonimato, ao ser questionado se a disputa estaria empatada.
Outro presidente de partido, que até dias atrás dava como selado um acerto com Ciro, também reconheceu que a balança pende agora para o bloco fechar com o pré-candidato do PSDB.
Uma terceira liderança do blocão também destacou que Alckmin voltou a ganhar força no grupo e, questionada sobre o motivo da mudança de humor em prol do tucano, disse apenas que o “juízo” tem pesado em favor dele.
REUNIÕES
Na quarta-feira à noite, um encontro de dirigentes do grupo –que contou com a presença do cacique do PR, Valdemar Costa Neto– definiu que vão tomar uma posição conjunta na sucessão presidencial e ofereceram o nome do empresário Josué Gomes, filiado ao PR, para ser candidato a vice.
Dirigentes do blocão voltaram a se reunir na manhã e início da tarde desta quinta em Brasília e divulgaram uma nota em que afirma que o momento é de “ponderar, em conjunto, o melhor caminho do Brasil” e que uma decisão comum será anunciada na semana que vem. [nL1N1UF0Y6]
Houve ainda uma reunião em São Paulo de vários dirigentes do grupo com o próprio Alckmin na qual o acerto avançou.
Segundo uma liderança do blocão, há detalhes a serem acertados com o tucano. Uma das pendências está no Solidariedade, legenda que já tinha tido sinalização de que demandas seriam atendidas pelo PDT.
Alckmin desmarcou uma agenda de viagem nesta quinta-feira ao interior de Minas Gerais a fim de, segundo uma fonte ligada ao tucano, intensificar os contatos com integrantes do blocão.
Por ora, o pré-candidato do PSDB só tem o apoio formal do PTB, o primeiro partido a anunciar uma aliança presidencial para outubro. O tucano tem ainda promessas de acordo com o PSD e o PPS e, se emplacar um eventual acerto com o blocão, poderá ter um bom tempo da propaganda eleitoral de rádio e TV –tradicionalmente um dos principais trunfos para a disputa presidencial.
Reservadamente, um interlocutor direto de Alckmin disse que são “boas” as perspectivas para fechar com o blocão. Afirmou ter conversado com um dirigente de um partido do grupo e o convenceu a apoiar o pré-candidato do PSDB com os seguintes argumentos: a afinidade da agenda do PSDB com o blocão é maior do que a de Ciro e a suposta falta de controle emocional do pedetista, que nos últimos dias se envolveu em polêmicas públicas.
“Os apoios estão vindo”, disse esse interlocutor de Alckmin, ao destacar o jeito sereno e de bastidor do pré-candidato tucano nas negociações. O PSDB marcou a sua convenção nacional para confirmar o nome de Alckmin somente no dia 4 de agosto, e, caso feche mesmo com o blocão, poderá anunciar um amplo arco de alianças na ocasião.
Já o PDT realiza convenção na sexta-feira sem que tenha fechado uma aliança formal com qualquer partido.
Eufórico dias atrás com o possível acordo com o blocão, o presidente pedetista, Carlos Lupi, minimizou a possibilidade de não firmar uma aliança com o grupo.
“Qual o prejuízo de perder aquilo que nunca tivemos? Não vamos ficar isolados. Vamos dar tempo ao tempo”, disse, em entrevista na noite de quinta-feira na sede do PDT em Brasília.
Questionado se Ciro conseguiria atrair o Solidariedade para uma coligação, afirmou que não acredita na possibilidade diante do fato de o blocão ter tomado uma decisão de agir em bloco.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello, em Brasília)