Por Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) – O senador Alvaro Dias, pré-candidato do Podemos à Presidência da República, disse nesta segunda-feira que não existe cenário em que possa desistir da disputa, mesmo em um quadro em que o campo da centro-direita se divide em diversos candidatos, e que alianças com partidos como PSDB e MDB são “improváveis” e até “impossíveis”.
Alvaro Dias apareceu com resultados entre 3 e 5 por cento na última pesquisa Datafolha, a depender do cenário, números próximos do tucano Geraldo Alckmin, e começa a preocupar o PSDB. O senador pelo Paraná tem boa pontuação na região sul do país, onde chega a 16 por cento, e crê que seu crescimento ainda não começou.
Sem se definir como direita, centro-direita ou centro-esquerda, Dias brinca que é “para frente que se caminha”, e apresenta propostas que podem agradar os dois lados do espectro político. Ao mesmo tempo que defende um Estado menor, afirma que não é possível abrir mão de programas sociais, que chama de investimentos para diminuir a “desigualdade de oportunidades”.
“Sou do chamado centro democrático progressista”, disse o senador à Reuters em seu gabinete no Congresso.
Dias defende o que chama de “refundação da República” e acredita que, mesmo com pouco tempo de tevê, em um cenário de enorme fragmentação política terá como levar sua campanha adiante e que poderá figurar no segundo turno da disputa.
O pré-candidato disse confiar que o eleitor será o protagonista de um processo de “depuração” de candidatos e alianças até as eleições em outubro. Embora considere ideal que haja uma redução de postulantes, admite como inevitável que alguns mantenham suas candidaturas ainda que não tenham viabilidade.
“Eu acho que o eleitor vai cuidar disso. Vai chegar um momento que o próprio eleitorado vai estabelecer convergência em razão daquilo que costumeiramente chamam de voto útil e nós não necessitaremos realizar grandes esforços de articulação política visando convergências”, defendeu. “Imagino que isso faz dessa eleição uma eleição suprapartidária. As siglas ficarão num plano secundário.”
Sobre a sua participação na corrida presidencial, garante, levará até o fim.
“Em nenhuma, em nenhuma”, afirmou, questionado sobre que circunstâncias o fariam desistir da candidatura. “Nenhuma, porque eu acredito, eu estou botando fé nisso”, disse.
“Eu acho que tem espaço para essa proposta. E por isso eu acredito vivamente que é viável um segundo turno”, disse o senador, para quem o jogo eleitoral começa de verdade depois da Copa do Mundo, pouco antes das convenções partidárias.
Na pesquisa Datafolha divulgada no dia 15 deste mês o senador chega a ter 4 por cento das intenções de voto quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece como candidato, e alcança os 5 por cento sem o petista, preso desde o início do mês em Curitiba, na disputa.
PRAGMATISMO
Para o senador, é necessário esperar para ver quem fala melhor com aqueles eleitores de Lula que não têm motivação ideológica.
“Boa parte desses eleitores não possuem essa motivação ideológica. Eu creio que aí há um conjunto de fatores que pode influir na decisão do eleitor. É preciso esperar para ver quem fala melhor com ele”, defendeu.
Dias diz que há no “inconsciente coletivo” da população um desejo pelo novo e calca a sua proposta em uma ruptura com o atual sistema. Por isso mesmo, enfrentará o desafio de conciliar esse projeto com a necessidade de obter alianças para estruturar sua campanha, embora sustente que as coligações não serão “decisivas”.
“Eu não coloco isso como uma prioridade. Participo de conversas, sim. Em matéria de alianças, aquelas que não comprometerem a proposta de rompimento com esse sistema, mas a prioridade é preservar essa tese da refundação da República”, afirmou, acrescentando que eventuais alianças com PSDB e MDB são “improváveis” e “impossíveis”.
“É claro que é bom, eu gostaria de ter mais espaço, mas se não tiver, nós vamos com as armas disponíveis”, disse.
E é com esse discurso e com essas “armas” que o pré-candidato pretende buscar os eleitores mais pragmáticos – aqueles sem grande identificação ideológica, que buscam apenas uma resolução para seus conflitos.
“No Podemos, o objetivo é fazer uma leitura das prioridades da população. Então, eleger prioridades impostas pela sociedade. E hoje eu vejo que há um pragmatismo. As pessoas querem soluções para seus problemas, seja vindo da direita ou da esquerda”, afirmou.
“Há valores à direita, que devem ser incorporados na nossa propostas, como há valores à esquerda. Por exemplo, reforma do Estado atende ao apetite da direita. Menos Estado e mais sociedade. Mas na esquerda há teses insubstituíveis nesse momento em que o país tem 52 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza. Necessariamente você tem que preservar programas sociais, pela redução da desigualdade de oportunidades”, defendeu.
POR QUE PREVIDÊNCIA QUEBROU?
Durante a discussão das reformas trabalhista e previdenciária no Congresso, o senador foi contra as propostas do governo de Michel Temer, não pela essência, mas pela forma que foram apresentadas. Alvaro Dias defende que não se pode fazer uma reforma previdenciária, por exemplo, sem antes saber as causas do rombo da Previdência.
“Por que a Previdência foi à falência? Até para nos prevenirmos em relação ao futuro, precisamos saber as razões da falência, expor para a sociedade, antes de propor a reforma previdenciária”, defendeu.
“A reforma eu poderia resumir à idade -é necessário estabelecer porque hoje temos para o pobre, não para o rico– e equiparar os sistemas. São dois pontos fundamentais da reforma da Previdência. Mas antes de propor a reforma precisamos desse balanço de por que quebrou a Previdência. E a manifestação da vontade política de receber dos grandes devedores.”
O senador trata de temas que costumam causar vertigem no chamado “mercado”, como auditoria da dívida pública e uma reforma tributária progressiva, que taxe mais quem ganha mais.
“Eu posso até mudar a denominação e em vez de falar de auditoria da dívida falar em um balanço da dívida. Eu posso suavizar a linguagem. Mas a verdade é que temos que ser transparentes com a sociedade. Temos que demonstrar porque a nossa dívida cresceu tanto. Deem o nome que quiserem dar, mas é necessário expor isso, porque quem paga essa dívida é o cidadão”, afirmou.
Na reforma tributária, o senador evita falar em temas como tributação de grandes fortunas, de dividendos ou heranças. Afirma que ao se falar em reformar o sistema atual, com mais de 70 diferentes taxas, impostos e contribuições, tem que se tratar de “emagrecê-lo” e não criar novas taxas. Dias defende a criação de um IVA –Impostos sobre Valor Agregado– primeiro federal, depois estadual, com uma transição.
“Essa reforma é absolutamente uma exigência do crescimento econômico. Ou trabalhamos uma reforma competente, colocando nosso sistema no nível dos sistemas internacionais mais modernos, dos países mais avançados, ou vamos continuar patinando”, disse.