LONDRES (Reuters) – Espiões britânicos sabiam dos maus tratos cometidos por agentes dos Estados Unidos contra centenas de supostos militantes, e se envolveram na captura de pessoas que foram transferidas sem o devido processo legal a terceiros países, de acordo com um relatório do Parlamento.
O relatório analisou as ações das agências de segurança e inteligência do Reino Unido em relação ao tratamento e à transferência de detidos no exterior no período que se seguiu aos ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA.
O documento divulgado nesta quinta-feira é o mais recente desdobramento de uma crise prolongada causada por alegações de tortura, maus tratos e transferências ilegais que prejudicaram a posição internacional do Reino Unido e desencadearam um debate global sobre os métodos e a responsabilização dos serviços de inteligência.
“Em nossa opinião o Reino Unido tolerou ações, e realizou outras, que vemos como indesculpáveis”, disse o Comitê de Segurança e Inteligência do Parlamento britânico.
“Dito isso, não encontramos provas concretas que indiquem que as agências negligenciaram deliberadamente relatórios sobre maus tratos e transferências dos EUA como uma questão de política institucional”.
O relatório foi divulgado após um inquérito de 2013 que revelou que espiões britânicos se envolveram na prática norte-americana de “cessão”, por meio da qual militantes capturados eram transferidos sem o devido processo legal a terceiros países.
A investigação anterior afirmou que Londres sabia dos maus tratos de supostos militantes, mas não interveio por medo de seus aliados norte-americanos.
Nesta quinta-feira o comitê parlamentar britânico disse ter descoberto 232 casos em que funcionários britânicos continuaram a oferecer perguntas ou coletar informações de inteligência depois de tomarem conhecimento de possíveis maus tratos.
O relatório também descobriu 28 casos em que agências de inteligência sugeriram, planejaram ou concordaram com operações de cessão e três casos em que ofereceram fazer uma contribuição financeira para realizar uma operação de cessão.
Em resposta ao relatório, uma autoridade de segurança do Reino Unido disse à Reuters que as agências de inteligência britânicas aprenderam lições duras desde os ataques do dia 11 de Setembro, e afirmou que hoje trabalham de maneira diferente.
“Hoje nós fazemos as coisas de maneira diferente”, disse a autoridade, que falou sob condição de anonimato. “Nós aprendemos as lições daqueles difíceis anos após o 11/09 e as estruturas amadureceram, tanto no Serviço Secreto de Inteligência como por todo o governo”.
Mas a autoridade também admitiu que espiões estavam sobre intensa pressão de seus comandantes políticos na época.
“Nossa equipe estava sob pressão para entregar dados de inteligência sobre a ameaça”, disse a autoridade. “A demanda imediata, de entregar inteligência para nos defender contra a ameaça terrorista, se tornou a prioridade dominante”.
(Reportagem de Andrew MacAskill e Guy Faulconbridge)