Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) – O governo brasileiro convocou a embaixadora da Nicarágua no Brasil, Lorena Martinez, para prestar esclarecimentos sobre as circunstâncias da morte da brasileira Raynéia Gabrielle Lima na noite de segunda-feira, em Manágua, e chamou o embaixador brasileiro no país, Luís Cláudio Villafañe, para consultas, em um sinal diplomático forte de desagrado.
Lorena Martinez foi recebida nesta terça pelo subsecretário-geral para América Latina e Caribe, Paulo Estivallet, para prestar esclarecimentos, mas não satisfez o governo brasileiro, de acordo com uma fonte ouvida pela Reuters.
A embaixadora entregou ao governo brasileiro uma nota divulgada pela Polícia Nacional nicaraguense atribuindo a morte de Raynéia a um segurança privado em circunstâncias incertas.
“Um Guarda de Vigilância Privada, em circunstâncias ainda não determinadas, realizou disparos com arma de fogo, um dos quais atingiu ocasionando-lhe ferimentos. Ela foi transferida para o Hospital Militar Alejandro Dávila Bolaños, onde faleceu”, diz o texto, entregue também ao embaixador.
Em Johanesburgo, onde espera o presidente Michel Temer para a Cúpula dos Brics, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, decidiu pela convocação da embaixadora e também por chamar o embaixador brasileiro para consultas, em um primeiro sinal diplomático de desagrado com o governo da Nicarágua.
Mais cedo, o Itamaraty divulgou uma nota dura, dentro dos padrões da diplomacia, cobrando explicações e condenando o governo do país centro-americano.
“O governo brasileiro recebeu com profunda indignação e condena a trágica morte ontem, 23 de julho, da cidadã brasileira Raynéia Gabrielle Lima, estudante de Medicina na Universidade Americana em Manágua, atingida por disparos em circunstâncias sobre as quais está buscando esclarecimentos junto ao governo nicaraguense”, diz o texto.
A nota condena ainda “o aprofundamento da repressão, o uso desproporcional e letal da força e o emprego de grupos paramilitares em operações coordenadas pelas equipes de segurança, conforme constatado pelo Mecanismo Especial de Seguimento para a Nicarágua instalado para implementar as recomendações da Comissão Interamericana de Direitos Humanos”.
A pernambucana Raynéia, 31 anos, estudava Medicina na American University de Manágua e estava dirigindo para casa quando teve seu carro metralhado na noite de segunda.
Quase 300 pessoas foram mortas nas últimas semanas na reação do governo de Daniel Ortega a protestos contra reformas no sistema de Previdência do país. Depois dos protestos, Ortega mexeu na proposta inicialmente aprovada em abril, mas a violência da reação da polícia e supostamente de grupos paramilitares fizeram as manifestações aumentarem ainda mais.