Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) – O candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, afirmou nesta segunda-feira que pretende criar 2 milhões de empregos no seu primeiro ano de governo, especialmente na área de construção civil que, afirma, é a que costuma reagir mais rápido e empregar mais pessoas ainda com baixa qualificação.
“O Brasil precisa se reindustrializar”, disse Ciro em evento para os candidatos organizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). “A construção é de fato o único setor com capacidade imediata de produzir emprego em uma situação debilitada como o Brasil está. Não importa insumo e emprega gente com dificuldades de qualificação. É um setor que responde imediatamente.”
Ciro Gomes afirmou ainda que existe uma “montanha de dinheiro estocado na especulação financeira” e recursos para investimentos em obras que não são usados por falta de qualificação dos municípios para fazer projetos e também por questões burocráticas que impedem os entes federados de pegar recursos para investimentos.
“Vou limpar tudo isso e começar imediatamente todos os projetos que houver”, afirmou.
O candidato voltou a falar em outros quatro setores – Defesa, Agronegócio, Saúde e Petróleo, Gás e Bioenergia – que, segundo ele, podem reagir mais rapidamente para a criação de empregos.
Ciro chamou de “ridículo” o crescimento do Brasil desde a década de 1980, que, segundo ele, foi em média de 2 por cento e basicamente empataria com o crescimento da população. Afirmou, ainda, que o Brasil passa por um momento de colapso do consumo, endividamento do setor produtivo, colapso fiscal e desequilíbrio na balança comercial que levaram à maior crise da história do país.
O candidato avalia que o país vive em processo de “cresce e quebra”, baseado apenas no consumo das famílias, e que não se sustenta. “Temos que desarmar essa bomba. Não se pode acreditar que consumo é o que vai fazer o país crescer. O que faz país crescer é investimento”, defendeu.
Ciro prometeu mexer em questões de legislação que, diz, levam à insegurança para investimentos no país. Afirmou, por exemplo, que irá mexer na lei das licitações, a 8666, a legislação de licenciamento ambiental e na estrutura dos órgãos de controle.
“O problema é que a corrupção se adapta às leis e as leis não podem ser rígidas”, criticou, afirmando ainda que, por exemplo, o Tribunal de Contas da União (TCU) tem mais engenheiros “só para botar defeito no trabalho dos outros” do que os ministérios-fim. “Hoje um órgão auxiliar tem poder de suspender uma obra. Não pode. Vai recomendar ao Senado e o Senado vai decidir se suspende ou não”.
BANCOS
Ciro voltou a atacar o que chama de cartel dos bancos brasileiros e afirmou que é preciso tirar os bancos públicos desse grupo para aliviar a restrição de crédito no país.
“Não podemos aceitar passivamente que nos últimos 15 anos, 80 por cento das operações financeiras do país estão concentradas em cinco bancos. Nos Estados Unidos são 5 mil”, disse. “É uma aberração, é um cartel. A Selic mais baixa nominal dos últimos meses e o juro mensal na ponta crescendo”.
Ciro defende que é necessário tirar os bancos públicos – Banco do Brasil e Caixa – do cartel para que eles forcem os juros para baixo. “O BB pode ganhar dinheiro e aumentar sua share no mercado e ganhar em escala”, defendeu.
MEDO
Questionado sobre o motivo da ação do PT que ajudou a isolá-lo na disputa eleitoral, Ciro afirmou que existe um “medo” da sua candidatura.
“E é um medo justificado, porque eu vou interpretar uma profunda reflexão do que é ser progressista, porque não é uma política social compensatória que faz a gente ser progressista”, disse.
Na semana passada, o PT fez acordos estaduais com o PSB, que levaram os socialistas à neutralidade na eleição presidencial, em vez de um possível apoio a Ciro.
Apesar de criticar novamente as manobras petistas, que classificou de um erro grave que “pegou muito mal”, Ciro disse estar aberto a alianças no segundo turno, desde que sejam de apoio a ele porque será quem estará no segundo turno”.
Ciro defendeu ainda sua companheira de chapa, a senadora Kátia Abreu (TO), apontada neste domingo.
“A minha aliança sempre foi anunciada, meu projeto é de centro-esquerda e quero reunir os interesses práticos de quem produz com os interesses práticos de quem trabalha”, acrescentando que Kátia tem mais decência que qualquer pessoa que conheça. “Ela foi expulsa pelos quadrilheiros golpistas do seu partido (anterior, o MDB) porque foi fiel à presidente Dilma Rousseff”, defendeu.