Por Pedro Fonseca
(Reuters) – O presidente Michel Temer afirmou nesta sexta-feira, de forma veemente, que não será candidato à reeleição, e que o decreto de intervenção federal na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro não foi uma “jogada eleitoral” voltada a aumentar seu cacife para o pleito de outubro.
“Eu não sou candidato. A minha intenção de hoje vai alongar-se pelo tempo todo. Eu não serei candidato”, disse Temer em entrevista à Rádio Bandeirantes. “Eu não quero. Eu sou candidato a fazer um bom governo.”
Desde que assumiu o governo, Temer tem afirmado que não disputará as eleições presidenciais de outubro, mas que o governo terá um candidato para defender o seu legado. Segundo o presidente, a decisão sobre quem será esse candidato será tomada no fim de maio ou início de junho.
Auxiliares próximos do presidente, no entanto, tem cogitado a hipótese de o próprio Temer ser candidato, apesar da baixa popularidade e das intenções de voto em torno de apenas 1 por cento na pesquisas. O cálculo é que Temer passaria a ser viável como candidato se sua popularidade chegar a 15 por cento e sua rejeição cair a 60 por cento, dos atuais 70 por cento, até abril.
As conversas sobre uma possível candidatura de Temer ganharam ainda mais fôlego após a decretação da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, que enterrou a impopular discussão sobre a reforma da Previdência e colocou o combate à violência no topo da agenda do governo.
Temer garantiu, no entanto, que a medida não teve qualquer motivação política. “É uma jogada de mestre, mas não é eleitoral. Você sabe que não tem nada de eleitoral nessa questão”, disse, quando questionado se a intervenção seria uma “jogada eleitoral de mestre”.
Apesar da negativa de Temer, o ministro Carlos Marun, da Secretaria de Governo, defendeu, em entrevista à revista Veja divulgada nesta sexta-feira, como “necessária” uma candidatura de Temer.
“Ele continua a dizer que não quer, mas o fato é que, como não aprovamos a reforma da Previdência, o nosso trabalho ficou incompleto”, disse o ministro, que na quinta-feira já havia afirmado que Temer não é candidato “nesse momento” porque não quer.
Na terça-feira, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, já havia levantado a hipótese de o presidente ser candidato à reeleição para defender as reformas implantadas por seu governo, e também nesta semana o marqueteiro do governo, Elsinho Mouco, afirmou, em declarações publicadas em coluna do jornal O Globo, que “Temer já é candidato”.
Mais tarde, em nota, o marqueteiro explicou que as declarações eram opiniões particulares, e que ele não tem alçada para “falar em nome do governo”.
Em resposta a diversas declarações de que o presidente decidiu decretar intervenção na segurança pública do Rio de Janeiro de olho nas eleições de outubro, inclusive por parte do ex-presidente e pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, o porta-voz da Presidência, Alexandre Parola, afirmou na quarta-feira que a “agenda eleitoral não é, nem nunca será, causa das ações” de Temer.
Na entrevista à Rádio Bandeirantes, o presidente afirmou ainda que não será candidato a outro cargo para manter o foro privilegiado, uma vez que é alvo de denúncias de corrupção, afirmando não ter nenhuma preocupação com as acusações “pífias” contra ele.
PAUTA PRIORITÁRIA
O presidente também contou na entrevista que antes de decretar a intervenção na segurança pública do Rio de Janeiro chegou a ser discutida no governo federal a possibilidade de afastamento do governador fluminense, Luiz Fernando Pezão, mas que essa medida foi de imediato rechaçada por ele.
Temer também reiterou que trata-se de uma intervenção civil, apesar de o interventor ser um general do Exército. Segundo o presidente, um possível fracasso da intervenção representará o fracasso de seu próprio governo.
“Se não der certo, não deu certo o governo. Porque o comandante supremo das Forças Armadas é o presidente da República. De modo que as Forças Armadas nada mais fizeram do que obedecer o comando do seu comandante supremo”, afirmou.
Temer também antecipou que anunciará na segunda-feira o nome do novo ministro da Segurança Pública, pasta criada pelo governo logo após decretar a intervenção federal no Rio. Segundo ele, 10 nomes estão sendo cogitados para ocupar o cargo.
“Neste momento, a segurança pública é a nossa pauta prioritária”, afirmou.
Sobre a reforma da Previdência, cuja tramitação ficou suspensa devido à intervenção pelo fato de a Constituição vetar emendas a seu texto na vigência de qualquer intervenção, Temer disse que o texto saiu da pauta do Legislativo neste momento, mas que continua sendo fundamental para o Brasil.
O presidente cogitou, inclusive, a possibilidade de o texto ser votado ainda este ano caso seja possível encerrar a intervenção.
“Cessados os motivos da intervenção ela não será mantida, e pode se abrir espaço para votar a reforma da Previdência”, afirmou. “Não haverá candidato que não será questionado sobre a posição com relação à Previdência.”
(Reportagem adicional de Maria Clara Pestre)