Por Tom Miles
GENEBRA (Reuters) – A República Democrática do Congo enfrenta um risco de saúde pública “muito elevado” devido ao Ebola porque a doença foi confirmada em um paciente em uma cidade grande, informou nesta sexta-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS), que alterou sua classificação ante avaliação anterior de “risco elevado”.
O perigo para países da região passou agora de “moderado” para “elevado”, mas o risco global continua “baixo”, disse a OMS.
A reavaliação veio depois do primeiro caso confirmado em Mbandaka, cidade de cerca de 1,5 milhão de habitantes do noroeste do país. Todos os relatórios anteriores da doença partiram de áreas remotas, onde um surto de Ebola pode ser contido mais facilmente.
“O caso confirmado em Mbandaka, um grande centro urbano localizado junto a um grande rio nacional e internacional, a estradas e a rotas aéreas domésticas, aumenta o risco de disseminação dentro da República Democrática do Congo e para países vizinhos”, alertou a entidade.
O vice-diretor-geral de Prontidão e Reação de Emergência da OMS, Peter Salama, disse a repórteres na quinta-feira que a avaliação de risco estava sendo revisada.
“Certamente não estamos tentando causar nenhum pânico na comunidade nacional ou internacional”, afirmou.
“O que estamos dizendo é que o Ebola urbano é um fenômeno muito diferente do Ebola rural porque sabemos que as pessoas das áreas urbanas podem ter muito mais contatos, então isso significa que o Ebola urbano pode resultar em um aumento exponencial de casos de uma maneira que o Ebola rural tem dificuldade para fazer”.
Ainda nesta sexta-feira a OMS convocará um Comitê de Emergência de especialistas para obter conselhos sobre a reação global ao surto e decidir se ele constitui uma “emergência de saúde pública de interesse internacional”.
O cenário mais temido é um surto em Kinshasa, uma cidade superpovoada onde milhões vivem em favelas insalubres sem acesso a esgoto.
Jeremy Farrar, especialista em doenças infecciosas e diretor da instituição de caridade global Wellcome Trust, disse que a epidemia tem “todas as características de algo que pode ficar muito feio”.
“À medida que surgem mais indícios da separação de casos no tempo e no espaço, agentes de saúde se infectam e as pessoas vão a enterros e depois viajam distâncias bem grandes, (o quadro) tem tudo que nos preocuparia”, disse ele à Reuters.
O comunicado da OMS disse terem surgido 21 casos de Ebola suspeitos, 20 prováveis e 3 confirmados entre 4 de abril e 15 de maio, um total de 44 casos, incluindo 15 mortes. Além do caso confirmado, Mbandaka teve três casos suspeitos.
(Reportagem adicional de Kate Kelland, em Londres)