Por Philip Pullella
CIDADE DO VATICANO (Reuters) – O papa Francisco exortou os católicos nesta terça-feira a refletirem sobre a causa da violência contra imigrantes durante a Quaresma, apelo feito dias depois de um ataque a tiros a africanos que inflamou ainda mais a campanha eleitoral italiana.
Em sua mensagem para a próxima Quaresma, durante a qual se espera que os fiéis jejuem, façam sacrifícios, reflitam e realizem atos adicionais de caridade, Francisco alertou para que “essa caridade não se esfrie dentro de nós”.
O pontífice disse que tal atitude pode levar à “violência contra qualquer um que acreditemos ser uma ameaça às nossas própria certezas: a criança não nascida, os idosos e enfermos, os imigrantes, os estrangeiros entre nós…”
A Itália sofreu um choque no sábado, quando um neonazista baleou e feriu seis imigrantes africanos enquanto dirigia por Macerata, cidade do centro do país, um ataque com motivação racial ocorrido um mês antes das eleições nacionais de 4 de março.
O ataque, que o papa não mencionou especificamente, agravou as tensões de uma campanha na qual partidos de centro-direita vêm pedindo a expulsão de centenas de milhares de imigrantes ilegais.
As palavras do pontífice se aplicam a vários outros países europeus onde o sentimento contra os imigrantes está alto, incluindo a Alemanha, onde o partido de extrema-direita e anti-imigrante Alternativa para a Alemanha conquistou vagas no Parlamento no ano passado.
Francisco, que fez da defesa dos imigrantes um dos pilares de seu papado, também ligou seu destino a duas de suas maiores preocupações –o meio ambiente e o desarmamento.
“A terra está envenenada por dejetos, descartados por descuido ou interesse próprio. Os mares, eles mesmo poluídos, engolfam os restos de incontáveis vítimas de naufrágios da migração forçada”, disse.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) estimou que 2.832 imigrantes morreram no ano passado tentando rumar do norte da África para Itália –menos que os 4.581 de 2016. Cerca de 119.310 pessoas chegaram às praias italianas vivas em 2017, e 181.436 no ano anterior.
Francisco já fez muitos apelos pelo desarmamento, e pediu uma proibição de cumprimento obrigatório às armas nucleares em meio à intensificação da guerra de palavras entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte.
Neste ano a Quaresma vai da Quarta-Feira de Cinzas, 14 de fevereiro, à Páscoa, no dia 1º de abril.