Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) – O PSB vai optar pela neutralidade nas eleições presidenciais, uma decisão que terá ainda de ser confirmada na convenção do partido marcada para o dia 5 deste mês, depois de um acordo com o PT que levou à retirada da candidatura de Marília Arraes (PT) ao governo de Pernambuco e de Márcio Lacerda (PSB) ao governo de Minas Gerais.
O movimento para levar o PSB à neutralidade cresceu nas últimas horas, após negociação direta entre os dois partidos, o que descarta uma aliança com o pedetista Ciro Gomes, uma das alternativas mais fortes até então.
No final da tarde desta quarta-feira, depois de reunião da Comissão Executiva Nacional, o PT divulgou a aprovação de resolução, por 17 votos a 8, em que declarou o apoio à reeleição do governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), em detrimento da candidatura de Arraes.
Na nota, o PT declara que irá apoiar formalmente os candidatos do PSB no Amazonas, Amapá, Paraíba e Pernambuco, além da reeleição do governador Flávio Dino (PCdoB) no Maranhão, com o objetivo de criar “condições para ampliar nacionalmente a candidatura Lula” e formar a “unidade do campo popular”.
De acordo com uma fonte ouvida pela Reuters, ao final da reunião da Executiva, a direção do PT recebeu do PSB a informação de que o acordo para retirada da candidatura de Lacerda estava fechado. O presidente do partido, Carlos Siqueira, embarcou para Belo Horizonte para informá-lo pessoalmente da retirada de sua candidatura ao governo do Estado.
“Isso é o que vai acontecer, o que reforça a tese que a neutralidade será aprovada sem disputa no domingo na convenção. Isso é uma neutralidade, mas não total porque vai demarcar o campo nos candidatos de esquerda”, disse à Reuters uma fonte socialista.
Depois da conversa com Lacerda, o próprio PSB deve soltar uma nota confirmando o acordo que, se não dá a aliança que o PT queria, tira o PSB do acordo com Ciro Gomes e deixa o pedetista isolado.
“Primeiro o PT exigia o apoio formal. Depois o PT desistiu do apoio formal e pediu a neutralidade, lógico que para desidratar o Ciro”, disse a fonte.
A decisão do PSB também garante a unidade interna do partido e agrada aos dois diretórios que eram mais fortemente contrários à aliança com o pedetista Ciro Gomes.
Em São Paulo, o governador Márcio França, candidato à reeleição, queria apoiar o tucano Geraldo Alckmin. Em Pernambuco, o partido preferia o PT justamente para tirar Arraes da disputa com o atual governador candidato à reeleição, Paulo Câmara.
Em Pernambuco, segundo as últimas pesquisas locais, Arraes estava em empate técnico com Câmara e disputava com o governador eleitorado semelhante. Em Minas, Lacerda está em terceiro lugar, atrás do senador Antonio Anastasia (PSDB) e do atual governador, Fernando Pimentel (PT).
Na noite de terça-feira, depois de uma reunião entre PSB, PCdoB, PT e PDT, Carlos Siqueira admitiu que o partido poderia chegar a uma posição de não ter “coligação formal” no primeiro turno com nenhum dos três partidos. Siqueira disse que não gostava da palavra neutralidade e não significaria não ter posição, mas apenas não apoiar formalmente nenhum dos “três candidatos que nos interessam”.
A neutralidade do PSB acaba com a última chance de Ciro Gomes formar uma aliança significativa para as eleições e deixa o pedetista, que também tentou cooptar o chamado blocão (DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade) e o PCdoB, isolado.
A decisão do PSB também mantém a divisão da esquerda, que deve chegar ao primeiro turno com dois candidatos com alguma força, o próprio Ciro e um eventual substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no caso da impugnação da sua candidatura pelo PT.