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Adeus, Zé Gotinha; vírus sincicial; TJ contra reajustes; eletro caseiro

Boletim de MR sobre medicina, pesquisa, inovação, saúde mental, negócios e políticas públicas


Gotinha contra pólio dá lugar à vacina injetável

A vacina oral poliomielite (VOP, na sigla em inglês), será oficialmente aposentada no Brasil em até dois meses. Popularmente conhecida como gotinha, a dose será substituída pela vacina inativada poliomielite (VIP, na sigla em inglês), aplicada no formato injetável. De acordo com a representante do Comitê Materno-Infantil da Sociedade Brasileira de Infectologia, Ana Frota, a previsão é que a retirada da VOP em todo o país ocorra até 4 de novembro.

A substituição da dose oral pela injetável no Brasil tem o aval da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI) e é recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “Nos parece bem lógica a troca das vacinas”, avalia Frota, ao citar que, a partir de agora, a orientação é que a VOP seja utilizada apenas para controle de surtos, conforme ocorre na Faixa de Gaza, no Oriente Médio. A região notificou quatro casos de paralisia flácida – dois descartados para pólio, um confirmado e um que segue em investigação.

Em 2023, o Ministério da Saúde informou que passaria a adotar exclusivamente a VOP no reforço aplicado aos 15 meses de idade, até então feito na forma oral. A dose injetável já é vinha sendo aplicada aos 2, 4 e 6 meses de vida, conforme o Calendário Nacional de Vacinação. Já a dose de reforço contra a pólio, antes aplicada aos 4 anos, segundo a pasta, não será mais necessária, já que o esquema vacinal com quatro doses vai garantir proteção contra a pólio.

A atualização considerou critérios epidemiológicos, evidências relacionadas à vacina e recomendações internacionais sobre o tema. Desde 1989, não há notificação de casos de pólio no Brasil, mas as coberturas vacinais sofreram quedas sucessivas nos últimos anos.

Chegou o eletro doméstico

Quem precisar de um eletrocardiograma não precisará mais marcar uma consulta para conseguir agendar um exame e fazer o retorno ao médico, como acontece na maioria dos casos. Chega ao mercado um modelo portátil voltado uso doméstico de pacientes (R$ 1,5 mil) que necessitem de monitoramento constante. O cardiologistas não está descartado para interpretar os resultados, mas a novidade vai ajudar quem precisa de monitoramento constante.

Desde 2021, uma diretriz da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) recomenda eletrocardiogramas diários para pacientes com mais de 65 anos que sofram de fibrilação atrial, um tipo de arritmia que os átrios (na parte superior do órgão) se contraem com velocidade maior do que a dos ventrículos, o que pode gerar coágulos que desencadeiam acidentes vasculars cerebrais (AVCs).

A condição tem forte relação com a pressão alta e a estimativa é de que 14% a 22% dos casos sejam causados pela hipertensão. Quando não diagnosticada, a fibrilação atrial é três vezes mais comum em pessoas hipertensas, alertou o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Weimar Kunz.

Assim como as medições de glicemia para controle do diabetes, o novo aparelho portátil não vai substituir o eletrocardiograma tradicional, que é capaz de avaliar mais de uma dezena de parâmetros e apontar alterações no coração e infartos.

Acne pode não ter ligação direta com chocolate

Há décadas estudos sugerem que há conexões entre acnes e dietas ricas em gordura saturada, açúcar e laticínios. Porém, novos estudos indicam que o problema pode ser, acima de tudo, causado por fatores genéticos. De acordo com Beibei Du-Harpur, dermatologista e palestrante clínico no Kings College, de Londres (Reino Unido), o tamanho das glândulas sebáceas seriam o problema central, agravando os problemas de acne, com folículos capilares bloqueados por óleo e células mortas da pele. O resultado é a formação de manchas e erupções de pela na adolescência e vida adulta.

O aumento dos casos, em especial em mulheres. sugere que as causas não são únicas, com fatores cotidianos desempenhando um papel maior que o esperado. Assim, as dietas ocidentais, ricas em açúcar e gordura industrializados acabam agravados por estado geral da saúde, questões imunológicas, inflamações continuadas e exposições ambientais. “Geralmente, nossos estilos de vida não são bons para o corpo humano, e talvez a acne seja uma manifestação disso”, diz Du-Harpur. Esses gatilhos podem incluir estresse, luta contra infecções ou TPM, diz Zainab Laftah, dermatologista consultora do Guy’s and St Thomas’ Hospital em Londres e porta-voz da British Skin Foundation.

Além do chocolate, haveria outros vilões. O índice glicêmico (IG) dos alimentos, que indica a rapidez que podem subir os níveis de açúcar no sangue no corpo, estão também em frutas, pães e massas, que pioram os sintomas de acne.

A pobreza nutricional poderia causar uma inflamação de baixo grau, o que se manifestaria como acne em quem já é geneticamente propenso, acredita ]Du-Harpur. Para enfrentá-a-la seria adequado uma dieta boa rica em frutas, vegetais e outros alimentos ricos em antioxidantes. “O corpo trabalha em coordenação, então coisas que são boas para o coração, intestino e cérebro também são boas para a pele”, diz.

Anticorpo para recém-nascido é promessa contra vírus sincicial

O vírus sincicial respiratório (VSR) figura atualmente como uma das principais causas de infecção das vias respiratórias entre recém-nascidos e ao longo dos primeiros meses de vida. No Brasil, o vírus costumava circular com maior intensidade no outono e no inverno. Mas, desde 2023, o país registra aumento no número de hospitalizações infantis fora de época ocasionadas pela infecção.

A infectologista e virologista Nancy Bellei, que atua como consultora do Ministério da Saúde e da OMS, alerta que, em muitos casos, o vírus é transmitido a recém-nascidos e bebês pequenos por irmãos em idade escolar. Uma das promessas é o anticorpo monoclonal nirsevimabe, no formato injetável e em dose única, indicado para recém-nascidos prematuros ou a termo e para bebês de até 12 meses. O emprego foi autorizado para uso pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o medicamento deve chegar ao país nos próximos dias. “Na pandemia de covid-19, fechou tudo, e a carga da doença diminui muito. Depois, quando as coisas reabriram, as pessoas começam a se reinfectar de novo. A gente se reinfecta com VSR a vida toda”, diz Bellei.

Em um primeiro momento, a proposta é que o monoclonal seja administrado no início da primeira temporada de VSR do bebê. Alguns profissionais de saúde, entretanto, defendem que o medicamento esteja disponível ao longo de todo o ano. “Temos quase um terço dos casos fora da chamada sazonalidade. Na minha opinião, a indicação do monoclonal não deveria ser sazonal”, avaliou o presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, Marco Aurélio Safadi.

“Outra gestão é um hábito específico do brasileiro. Nasce o bebê, vai toda a galera que conhece a mãe, vão os amigos de futebol do pai. Todos vão visitar o bebê. Fazem aquela festa na maternidade. E o recém-nascido é um indivíduo que precisa de muita proteção. A melhor estratégia para uma doença que já começa a ser grave no primeiro dia é mesmo a imunização passiva.”

O que é imunização passiva

Diferentemente da vacina, que se classifica como imunização ativa, o anticorpo monoclonal figura como imunização passiva porque já entrega ao paciente a defesa de que ele necessita. Na prática, enquanto a vacina exige que o organismo reaja para produzir anticorpos, o anticorpo monoclonal é introduzido prontamente ao organismo, além de causar menos reações adversas.

Planos coletivos perdem 60% das ações contra reajustes

Seis de cada dez ações judiciais que contestam reajustes nas mensalidades de planos de saúde coletivos tiveram decisões e, favor dos usuário no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Os resultados foram revelados no levantamento “Revisão judicial dos Reajustes de Planos de Saúde no Tribunal de Justiça de São Paulo”, de pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Universidade de São Paulo (USP). O trabalho foi publicado na revista Direito Público.

O estudo analisou 215 entre 666 decisões judiciais relacionadas a planos de saúde coletivos. Em 85 casos (40%), o reajuste foi considerado legal, enquanto em 130 (60%) foi considerado ilegal. Na maioria dos casos o TJSP utilizou o índice de reajuste aplicado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) aos planos individuais e familiares em suas revisões. Este ano, o reajuste foi de 6,9%, enquanto os planos coletivos tiveram um aumento médio de 14%.


O que MR publicou

Consultas e internações na rede privada caem de 2019 para 2023

Um levantamento da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), associação que representa um grupo de mais de 120 hospitais particulares, mostrou que,de 2019 a 2023 houve uma redução do número de consultas ambulatoriais, internações e terapias, por paciente. Mas houve aumento dos exames e atendimentos médicos em prontos socorros.

O levantamento mostra que o número de consultas ambulatoriais por paciente caiu de 4,7 em 2019 para 4,1 em 2023, ou seja, 12%. As internações caíram de 0,193 para 0,189 por paciente nos 5 anos, queda de 2%, enquanto os procedimentos odontológicos diminuíram de 6,6 para 5,7, queda de 13%, e as terapias passaram de 1,7 para 1,6, redução de 8%. Já o número de exames aumentou no período, subindo de 19,8 para 23,4, ou seja, uma alta de 18%. Também tiveram alta os atendimentos médicos em prontos socorros (4%). Na comparação com 2022, no entanto, foi constatada um aumento de quase 3% no número de internações por pacientes, já que naquele ano a média calculada foi 0,184.

O levantamento da Anahp mostrou ainda que as operadoras de plano de saúde apresentaram um resultado financeiro líquido positivo de R$ 5,1 bilhões no primeiro semestre deste ano, o que representa cerca de 3,5% do que as empresas arrecadaram com as taxas pagas pelos 51 milhões de beneficiários desses planos no período, o chamado prêmio, que chegou a R$ 147,41 bilhões.

Os planos de saúde desembolsaram 83% desses prêmios com os pagamentos dos procedimentos médicos aos usuários desses planos, ou seja, R$ 123,02 bilhões. Esse percentual, chamado de taxa de sinistralidade, foi inferior aos observados nos 12 meses de 2021 (87%), de 2022 (89%) e de 2023 (87%), anos em que os planos fecharam com prejuízos de 1,6%, 9,9% e 9,2%, respectivamente.

Ainda segundo a pesquisa, a variação dos custos médico-hospitalares no país chegou a 11,66% em 2023, acima dos 8,78% em 2022, mas abaixo dos 13,86% de 2019. Desde 2014, esses custos variaram acima da inflação oficial, com exceção de 2020, ano de início da pandemia, quando caiu 8,45%.

Brasil ainda usa 17 mil geladeiras domésticas para armazenar vacinas

Ao comentar os desafios envolvendo o suprimento de vacinas e imunobiológicos no Brasil, o diretor do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Eder Gatti, disse que o país ainda registra o uso de cerca de 17 mil geladeiras domésticas para armazenamento de doses. Os equipamentos, além de não passarem pelo crivo da Anvisa, podem apresentar instabilidade da temperatura interna, colocando em risco a eficácia dos imunizantes. 

De modo geral, o armazenamento de vacinas requer o uso de equipamentos específicos, como as chamadas câmaras frias, que contam com sistema de controle e monitoramento de temperatura. “O PNI quer ter o melhor calendário de vacinas do mundo. Não tenham dúvidas. Mas temos que ter prioridades e orçamento”, disse Gatti, ao citar especificamente a rede de frio brasileira. “Rodando o país, o cenário ainda é muito complexo”, reforçou, ao participar, nesta sexta-feira (20), da 26ª Jornada Nacional de Imunizações, no Recife. 

Segundo o diretor do PNI, além de equipamentos inadequados para o armazenamento de doses, alguns municípios brasileiros sofrem com o que chamou de instabilidade energética. Nesses casos, a disponibilidade de câmaras frias, e não de geladeiras domésticas, é ainda mais necessária, já que equipamentos mais modernos contam com baterias que permitem o backup de energia em meio a eventuais apagões. 

Ainda de acordo com o diretor do PNI, em 2023, a pasta fez um levantamento da situação da rede de frio em todo o país, quando foi constada “necessidade de grande investimento”. O primeiro passo, segundo ele, envolve regulamentação. Para isso, o ministério colocou em consulta pública uma proposta de portaria que padroniza centrais da rede de frio no Brasil. O documento propõe cinco modelos de planta, com base, por exemplo, na população do município e na demanda de armazenamento de vacinas. As propostas podem ser enviadas até o dia 30 de setembro por meio de formulário.

Para Opas, combate às fake news deve focar nas dúvidas

O combate às fake news envolvendo vacinação, sobretudo nas redes sociais, deve ter como foco quem tem dúvidas sobre a eficácia e a segurança das doses e não quem espalha boatos e notícias falsas. É o que defende a representante da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) no Brasil, Socorro Gross. 

“Temos que trabalhar muito, e temos que trabalhar juntos, contra essas pessoas [que espalham fake news], sabendo que não vão mudar. Mas há um outro grupo de pessoas. E são pessoas com quem ainda podemos falar porque têm dúvidas”, disse Socorro, ao participar da 26ª Jornada Nacional de Imunizações, no Recife. 

Para a representante da Opas no Brasil, o país vive o que chamou de “momento de virada” no que diz respeito à vacinação. “Já se mostrou, ao mundo todo, que é possível, quando se tem decisão política e coordenação. Que dá certo”, disse, ao destacar que o Brasil, recentemente, deixou de integrar a lista dos 20 países com mais crianças não vacinadas. 

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