Boletim de MR sobre medicina, pesquisa, inovação, saúde mental, negócios e políticas públicas
Por remédios menos amargos
Cientistas analisaram a intensidade do amargor de cinco medicamentos e dois modificadores amargos em 338 adultos de diferentes ancestralidades. O estudo, publicado no Chemical Senses e liderado pelo Monell Chemical Senses Center, revelou que as classificações de amargor variavam entre grupos populacionais para dois dos medicamentos e que a eficácia dos modificadores também diferia. Além disso, identificaram variantes genéticas que explicam essas diferenças na percepção do gosto amargo.
Os medicamentos testados incluíram tratamentos para HIV, tuberculose, esquistossomose, malária e hipertireoidismo, além de combinações com sucralose e 6-metilflavona para reduzir o amargor. Embora o gosto amargo possa ter funções benéficas, como prevenir envenenamentos acidentais, ele pode dificultar a adesão ao tratamento. Segundo a autora sênior Dani Reed, essa barreira pode ser especialmente prejudicial em locais com poucos recursos, onde a continuidade da medicação é essencial para a eficácia do tratamento.
Calor extremo no trabalho afeta saúde a curto e longo prazo

O calor extremo impacta a saúde a curto e longo prazo, exigindo mais esforço do organismo para se regular, podendo causar exaustão, insolação e agravar doenças crônicas. No Rio de Janeiro, onde a temperatura já atingiu 44ºC, mais de 5 mil pessoas buscaram atendimento médico nos primeiros meses do ano devido ao calor excessivo. A pesquisadora Tatiane Cristina Moraes de Sousa alerta que trabalhadores informais, como vendedores ambulantes e entregadores, são os mais vulneráveis, pois não podem interromper suas atividades nos horários mais quentes. Ela destaca a necessidade de políticas públicas para garantir hidratação, assistência e medidas preventivas que vão além do verão.
Entidades médicas pedem faixa etária maior para mamografia de rastreio
Entidades médicas apresentaram à ANS um parecer defendendo a ampliação da faixa etária para mamografia de rastreio, incluindo mulheres de 40 a 74 anos, argumentando que um número significativo de mortes por câncer de mama ocorre fora do intervalo de 50 a 69 anos recomendado pelo Ministério da Saúde e pelo Inca. Elas destacam que a detecção precoce reduz a agressividade dos tratamentos e os custos da doença, enquanto o Inca alerta para riscos de sobrediagnóstico e sobrecarga no sistema. A ANS recebeu o documento e analisará as contribuições antes de definir os critérios finais de certificação oncológica para planos de saúde.

79 milhões de brasileiros estão obesos
A obesidade atinge cerca de um terço da população brasileira (31%) e tende a crescer nos próximos anos, segundo o Atlas Mundial da Obesidade 2025. O relatório revela que 68% dos brasileiros têm excesso de peso e projeta um aumento significativo nos casos até 2030. O endocrinologista Marcio Mancini alerta que a obesidade deve ser tratada como um problema de saúde pública, exigindo medidas como taxação de bebidas açucaradas, incentivo a alimentos saudáveis e melhoria na infraestrutura urbana. Globalmente, mais de 1 bilhão de pessoas vivem com obesidade, número que pode ultrapassar 1,5 bilhão até 2030. Para enfrentar esse desafio, a campanha “Mudar o Mundo Pela Saúde” mobiliza governos e a sociedade, promovendo políticas de prevenção e tratamento.
Testes em esgotos podem ser alerta antecipado de surtos

A análise de águas residuais pode prever surtos de doenças e novas variantes de patógenos semanas ou meses antes de se tornarem generalizados, segundo pesquisas recentes. Estudos indicam que monitorar esgotos, inclusive em aeroportos, pode identificar vírus e bactérias antes mesmo de surtos serem detectados em humanos ou animais. Um estudo da CDC revelou que vestígios da gripe aviária foram encontrados em 2022 seis semanas antes de serem identificados em aves. Outra pesquisa publicada na Nature mostrou que testar esgotos de aviões poderia prever pandemias com até dois meses de antecedência. Esse método, mais eficiente que os testes convencionais, pode fornecer um “boletim de saúde” às cidades e ajudar médicos a identificarem patógenos em circulação. Para isso, especialistas defendem a padronização global da coleta e análise de amostras, reforçando que a cooperação internacional é essencial para o controle de epidemias.
Terapia adaptada diminui morte por febre amarela

A adaptação de protocolos para hepatites fulminantes no tratamento da febre amarela pelo Hospital das Clínicas da USP aumentou a sobrevivência dos pacientes em 84%, utilizando transfusões de plasma como alternativa ao transplante de fígado, um procedimento complexo e de difícil acesso. A técnica, mais acessível e já aplicada com sucesso em Florianópolis, mostrou eficácia ao reduzir a sobrecarga hepática e permitir a recuperação gradual dos infectados. No entanto, a baixa chegada de pacientes a hospitais de alta complexidade compromete a aplicação do método, contribuindo para a alta taxa de letalidade em São Paulo, onde 12 das 18 infecções resultaram em óbito. A OMS emitiu alerta para viajantes, enquanto a Secretaria de Saúde reforça a vacinação, já que 11 dos mortos não estavam imunizados.