Boletim de MR sobre medicina, pesquisa, inovação, saúde mental, negócios e políticas públicas
Efeito sanfona: células de gordura têm memória da obesidade
O efeito sanfona, caracterizado pelo rápido ganho de peso após o emagrecimento, ocorre porque as células de gordura “se lembram” da obesidade devido a alterações epigenéticas, que são modificações na expressão genética causadas por fatores ambientais. Um estudo publicado na Nature analisou tecidos adiposos de pessoas com obesidade e observou que essas alterações genéticas permanecem mesmo após cirurgias de perda de peso, influenciando a capacidade das células de gordura em armazenar mais açúcar e gordura. Em experimentos com humanos e camundongos, foi identificado que essa “memória” celular contribui para a dificuldade em manter o peso, embora o mecanismo exato ainda não seja totalmente compreendido.
Ciência procura gene da superssobrevivência aos tumores
Pesquisadores iniciaram um estudo global para entender por que algumas pessoas diagnosticadas com cânceres agressivos, como glioblastoma, câncer de pulmão de pequenas células e adenocarcinoma pancreático metastático, sobrevivem muito além do esperado. Envolvendo 1.000 pacientes, o estudo analisará DNA, proteínas sanguíneas, micróbios e biomarcadores moleculares para identificar fatores genéticos ou imunológicos que favorecem a sobrevivência. Chamado de Projeto Rosalind, em homenagem a Rosalind Franklin, o objetivo é replicar essas características biológicas em novas terapias. A iniciativa, liderada por 40 países e financiada pela startup Cure51, busca criar tratamentos mais eficazes para cânceres difíceis de tratar.
Miopia entre crianças e adolescentes só aumenta
Uma ampla revisão publicada no British Journal of Ophthalmology revelou que, em 2023, um terço das crianças no mundo tinha miopia, com previsão de aumento para 40% até 2050, totalizando mais de 740 milhões de casos. O estudo, que analisou 276 pesquisas com 5,4 milhões de crianças em 50 países, destaca que a miopia, geralmente iniciada na infância, é um problema crescente, mas que pode ser prevenido com medidas como maior exposição à luz natural e redução do tempo em atividades de visão próxima, como o uso de telas.
Tratamento celular promete aliviar deterioração das córneas
Estudo pioneiro no Japão do department of oftalmologia da Universidade de Osaka testou a aplicação de células epiteliais corneanas derivadas de células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs) para tratar deficiência de células-tronco limbares (LSCD), uma condição grave que afeta a visão. Quatro pacientes receberam transplantes dessas células em um ensaio clínico de braço único e aberto, com acompanhamento de dois anos. O tratamento mostrou-se seguro, sem eventos adversos graves, como rejeição imunológica ou formação de tumores. Além disso, melhorias significativas foram observadas na acuidade visual, redução da opacificação corneana e qualidade de vida. Este avanço representa uma nova abordagem para tratar LSCD, com maior segurança e eficácia, e abre caminho para estudos clínicos mais amplos.
O que MR publicou
- Mpox: OMS aprova primeira vacina para uso emergencial em crianças
- O que alerta o novo manual sueco do fim do mundo
- A ameaça das mudanças climáticas à Saúde
- EUA confirmam primeiro caso de nova variante da mpox
Implantes hormonais estéticos são proibidos
A Anvisa atualizou as regras sobre implantes hormonais, reforçando a proibição de seu uso para fins estéticos, ganho muscular ou melhora de desempenho esportivo, além de vetar a propaganda desses produtos ao público. A resolução responsabiliza farmácias de manipulação por prescrições inadequadas, ampliando a fiscalização e promovendo maior segurança. A medida, que não aprova nem garante a segurança dos implantes, está alinhada às restrições do Conselho Federal de Medicina, destacando a necessidade de cautela devido à falta de comprovação científica de eficácia. A decisão também visa combater desinformação e práticas irregulares.
Vacinas contra sarampo salvam cinco vidas por segundo
A vacina contra o sarampo, considerada uma das mais eficazes da história, salvou milhões de vidas desde 2000, mas a cobertura vacinal global permanece insuficiente, com 22 milhões de crianças sem receber a primeira dose em 2023, contribuindo para surtos em 57 países. Apesar disso, o Brasil recuperou em 2024 o status de país livre do sarampo, perdido em 2019, graças à vacinação, com os últimos casos autóctones registrados em 2022. A OMS reforça a necessidade de 95% de cobertura vacinal em duas doses para evitar surtos de uma doença altamente contagiosa e prevenível.
Leitos de UTI crescem 52% em 10 anos
O número de leitos de UTI no Brasil cresceu 52% em 10 anos, impulsionado pela pandemia, alcançando 73.160 em 2024, mas a distribuição permanece desigual, tanto territorialmente quanto entre os sistemas público e privado. Enquanto o SUS oferece 24,87 leitos por 100 mil habitantes para 152 milhões de pessoas, a rede privada, que atende 51 milhões, dispõe de 69,28 por 100 mil beneficiários. A disparidade também é regional, com o Norte registrando os menores índices. O número de intensivistas aumentou 228% desde 2011, mas a concentração desses profissionais e de leitos ainda é maior nas capitais e no Sudeste, destacando a necessidade de políticas públicas para equalizar o acesso.