Com o aumento das temperaturas, o Brasil tem registrado uma elevação nas denúncias por más condições de trabalho
Nos últimos anos, o aumento das temperaturas globais tem forçado uma reconfiguração das condições de trabalho em várias regiões do mundo. No Brasil, as intensas ondas de calor, como a que começou em março de 2024, trazem sérios riscos à saúde de trabalhadores, especialmente daqueles expostos a ambientes sem controle adequado de temperatura. Além de afetar a saúde, as altas temperaturas comprometem a produtividade das empresas, levando governos a revisar normas trabalhistas em busca de maior proteção.
Os riscos do calor extremo
O Brasil tem registrado um aumento alarmante nos dias de calor extremo, que passaram de 7 para 52 dias por ano nas últimas três décadas. O estresse térmico, como explica a médica Mayara Floss, ocorre quando o corpo perde a capacidade de regular sua própria temperatura, principalmente pela falha no mecanismo de transpiração. Essa condição, que pode ser fatal, exige atenção médica imediata.
Sintomas como inchaço, exaustão, tontura e desmaios são comuns entre trabalhadores submetidos a temperaturas elevadas. Esses efeitos não afetam apenas os trabalhadores ao ar livre, mas também aqueles em ambientes internos sem ventilação adequada.
Setores mais vulneráveis
Um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) destaca que setores como agricultura, construção civil, transporte e turismo estão entre os mais afetados pelo calor extremo. No Brasil, trabalhadores informais, como vendedores ambulantes e entregadores, enfrentam grandes riscos, principalmente em áreas urbanas onde o asfalto amplifica a sensação térmica.
Segundo a OIT, temperaturas acima de 26°C já começam a prejudicar a capacidade de trabalho, aumentando a exposição ao estresse térmico. Estima-se que, até 2030, cerca de 2,2% das horas de trabalho em todo o mundo serão perdidas devido ao impacto do calor.
Denúncias e medidas no Brasil
Com o aumento das temperaturas, o Brasil tem registrado uma elevação nas denúncias por más condições de trabalho. O Ministério Público do Trabalho (MPT) tem recebido relatos de trabalhadores de setores como a construção civil e o comércio, relatando sintomas de desidratação e esgotamento físico.
Em cidades como Sorocaba (SP), fábricas têm enfrentado problemas com funcionários que passam mal em galpões mal ventilados, o que motivou sindicatos a exigir melhorias nas condições de trabalho, como a instalação de sistemas de climatização e pausas regulares para descanso.
Impactos econômicos e a necessidade de adaptação
O calor extremo não afeta apenas a saúde, mas também a produtividade. A OIT alerta que a agricultura e a construção civil serão os setores mais prejudicados, com uma significativa redução nas horas trabalhadas até 2030. No Brasil, a queda na produtividade já é perceptível, sendo comparada aos períodos chuvosos, que também interrompem o andamento das obras.
Governos e empresas estão sendo pressionados a adotar medidas de adaptação. Alguns países, como a Espanha, já proibiram o trabalho ao ar livre durante períodos de calor extremo. Nos Estados Unidos, a fiscalização foi reforçada em setores como agricultura e construção, enquanto cidades como Phoenix têm realizado obras durante a noite para evitar a exposição ao calor.
O futuro do trabalho em climas quentes
Especialistas defendem que uma das principais adaptações será a alteração dos horários de trabalho, especialmente em atividades ao ar livre. No Brasil, as empresas são legalmente obrigadas a garantir conforto térmico, e as Normas Regulamentadoras (NRs) do Ministério do Trabalho estão sendo aplicadas em casos de denúncia.
A CEO da Moema Medicina e Segurança no Trabalho, Tatiana Gonçalves, alerta que a exposição ao calor extremo pode causar acidentes e desmaios, além de aumentar os riscos de saúde. “Um risco é que muitas vezes as pessoas, devido ao calor, podem achar que podem deixar de utilizar os EPIs. Isso não pode nunca acontecer, e a empresa tem que explicar para os trabalhadores, podendo ter o risco de ver aumentar os números de acidentes”, explicou.
Recomendações de segurança
A legislação brasileira, através da NR-09, prevê o controle de riscos ambientais, incluindo o calor extremo. As medidas de proteção incluem:
- Redução do esforço físico dos trabalhadores;
- Melhora da ventilação nos ambientes de trabalho;
- Uso de barreiras de proteção contra o calor radiante.
Em ambientes como fábricas, recomenda-se:
- Aclimatação dos trabalhadores para adaptação ao calor;
- Limitação do tempo de exposição ao calor;
- Incentivo à hidratação regular.
O uso correto de EPIs é essencial, incluindo óculos, luvas e aventais adequados, além de roupas que permitam maior ventilação.
Prevenção e adaptação para todos
Além das empresas, a população em geral também precisa se proteger. O Ministério da Saúde recomenda:
- Hidratação constante com água e sucos;
- Evitar bebidas alcoólicas ou açucaradas;
- Preferir refeições leves e frescas;
- Permanecer em ambientes frescos e usar roupas leves;
- Evitar a exposição ao sol nos horários mais quentes;
- Usar protetor solar, óculos escuros e chapéus.