As máquinas se tornam mais capazes, fáceis de programar e melhores em explicar suas ações
Os robôs estão chegando! No mundo da ficção científica, essa afirmação costuma soar como um aviso sinistro. Na realidade, trata-se de uma previsão muito bem-vinda, afirmou a revista The Eonomist, na edição desta semana. Nos últimos anos, a área de robótica avançou de forma impressionante, à medida que pesquisadores de universidades e indústrias aplicaram avanços da inteligência artificial (IA) às máquinas. A mesma tecnologia que permite a chatbots como o ChatGPT manter conversas, ou sistemas como o DALL-E criar imagens realistas a partir de descrições textuais, está proporcionando um grande salto na capacidade dos robôs.
Como resultado, os robôs estão se tornando mais capazes, mais fáceis de programar e aptos a explicar suas ações. Investidores estão apostando alto em startups de robótica. A OpenAI, criadora do ChatGPT, que havia desistido da robótica há alguns anos, mudou de ideia e começou a contratar uma nova equipe para essa área. Quando aplicados ao mundo físico, os avanços da IA, anteriormente restritos ao mundo digital, agora mostram um potencial enorme.
Os robôs podem inspirar medo. Desde cedo, os seres humanos são condicionados por Hollywood a temê-los – uma nova versão do antigo conto do inventor que perde o controle de sua criação. E mesmo que os robôs não sejam literalmente as máquinas assassinas dos filmes “O Exterminador do Futuro”, eles podem eliminar empregos bem remunerados em fábricas e armazéns. Contudo, os avanços recentes na robótica trarão benefícios reais e significativos.
Um desses benefícios é que novos modelos de IA “multimodais” combinam compreensão de linguagem e visão com dados de sensores e atuadores robóticos. Isso permite interagir com robôs usando palavras comuns. É possível perguntar a um robô o que ele está vendo ou dizer-lhe para “pegar a fruta amarela”. Esses modelos, na prática, conferem aos robôs um certo grau de bom senso – neste caso, saber que uma banana próxima é uma fruta amarela. E, como um chatbot, um robô pode ser instruído a modificar seu comportamento simplesmente alterando um comando de texto, algo que antes exigia uma reprogramação complexa.
Outra vantagem é que os novos modelos permitem que os robôs expliquem o raciocínio por trás de suas ações. Isso é útil quando eles agem de maneiras inesperadas ou indesejadas. Desde que os “cérebros” dos robôs não sejam caixas-pretas indecifráveis, programá-los e corrigir falhas torna-se mais simples. Os novos modelos também são menos propensos a “alucinações” – termo técnico para “inventar coisas” – porque sua percepção está ancorada em observações do mundo real, buscando garantir que a realidade cognitiva e física coincidam. Isso os torna mais seguros e confiáveis.
Mais uma notícia boa é que os robôs estão ficando melhores em aprender rapidamente através da imitação e em generalizar de uma habilidade para outra. Isso abre a possibilidade de que robôs saiam das fábricas e armazéns. Várias empresas e grupos de pesquisa estão usando os modelos de IA mais recentes para construir robôs humanoides, partindo do princípio de que a maior parte do mundo, ao contrário de uma linha de montagem, foi projetada para pessoas se moverem. Os mercados de trabalho nas economias avançadas estão ficando cada vez mais apertados à medida que as sociedades envelhecem. Além de aumentar a produtividade enquanto a força de trabalho diminui, robôs mais capazes poderiam cozinhar, limpar e cuidar de idosos e necessitados.
As economias avançadas precisarão de mais automação se quiserem manter seus padrões de vida. Coreia do Sul, Japão e China estão entre os cinco países com mais robôs por trabalhador na manufatura. Não é coincidência que esses países também estejam envelhecendo rapidamente. Sem a ajuda dos robôs, mais pessoas podem ter que trabalhar por mais tempo e se aposentar mais tarde. Nos próximos anos, as atitudes podem muito bem mudar de temer a chegada dos robôs para desejar que eles cheguem logo.